Minha amiga queridona Stéphane Velasco vive um dilema de mãe de gatos de primeira viagem: ela acaba de realizar seu primeiro resgate. Achou uma gatinha pequenina na rua, brigando com outro gato maior. Stéphane já te dois gatos adultos, Acerola e Sardinha. A princípio, ela resolveu doar a pequena para uma moça contactada via Facebook, mas agora tá naquela dúvida que assola todo mundo que já foi, ou é lar temporário pra algum animalzinho carente: doar ou adotar?
De 2007 a 2009, eu alimentei diversos gatinhos no campus da minha universidade, realizei alguns resgates e fui lar temporário muitas vezes. E vou dizer, não é fácil. A gente sempre acha que faz pouco e que não é o suficiente. Mas uma coisa eu aprendi: não fazer absolutamente NADA é que é pouco. Nesse caminho, minha família e eu ficamos com 5 gatos. Hoje são três, pois dois morreram esse ano, e isso abalou demais a vida de todo mundo em casa. Meus gatos não vão pra rua, são castrados, comem ração premium e qualquer espirro já vão na veterinária especializada. Tem amor, carinho e são muito mimados. Mas mesmo assim, duas pequenas nos deixaram, uma picada por um bicho peçonhento e outra por uma doença que levou ela mesmo com todo o atendimento médico possível.
Amor não é temporário. Por um animalzinho que não faz nada pra nos magoar, então, acho que é ainda mais profundo. Por isso, temos que avaliar direitinho o que queremos e o que podemos fazer por aquele animal recém-acolhido, que até então só conheceu o asfalto como casa.
A grande pergunta que temos que fazer é: o que é melhor pra ele? Ficar comigo ou ser doado? Porque de nada adianta adotar se você não pode dar todo amor, segurança e apoio do mundo, certo? e também não adianta doar só por doar, pra se livrar do problema, porque por causa de gente que só quer "se livrar do problema" é que existem tantos animais soltos e sofrendo na rua. Eu senti na pele o que uma escolha errada pode fazer.
Em 2009, achei um gatinho cinzento numa praça, famélico e judiado. Deixei ele num hotelzinho, mas quando a conta bateu em R$ 200 apenas de hospedagem, decidi trazer pra casa. Já estava sendo lar temporário pra uma outra gatinha, e logo os filhotes ficaram amigos. Essa gatinha foi doada, e muito bem doada, para uma moça humilde mas muito cuidadosa. E o gatinho cinza ficou pra trás. Batizamos ele de Nanquim.
Nanquim na época em que morava no hotelzinho. |
Logo ele brincava com a Pan, que revidava com tabefes, mas ele não ligava. Jogava futegato o dia todinho, era espoleta, carinhoso, enfim, um gatinho de colo. Na época, meus pais não gostavam muito de gatos, e eu não queria adotar o pequeno à revelia. No fim das contas, uma moça da faculdade mesmo, que parecia perfeita, apareceu. Quando fui entregar o lindo, vi que era apartamento telado, tudo nos conformes. Sai de lá feliz pela adotante perfeita.
Mas o que ela não me contou, é que seu pai não gostava de gatos. E me prometeu que ela mesma castraria, apesar da minha insistência de eu mesma buscá-lo dali dois meses para a cirurgia. O que de fato aconteceu: dias depois ela se mudou com a família pra uma casa térrea, e não castrou o pequeno nem o protegeu. Arrumou um cão de raça, daqueles que necessitam de atenção extrema, e que batia no gato. Nanquim fugiu e nunca mais foi visto.
Meu coração foi lá no chão quando eu soube de tudo isso. O que eu berrei com essa menina, não tá escrito. Porque ela não me devolveu o gato? porque ela não agiu com responsabilidade? Porque pelo menos não me avisou todas essas mudanças, pra que eu mesma pudesse tomar uma atitude? Ele se perdeu pra sempre.
É por isso que temos que pensar no que é melhor pra eles, porque mesmo com todo cuidado do mundo, as pessoas ainda são irresponsáveis. Porque se for pra doar de qualquer jeito, melhor continuar sob nossos cuidados. Mas se for pra ele ter um lar melhor, às vezes ser o gatinho mimado da casa, é melhor doar.
Resgatei e doei outros, de lá pra cá. E outros gatinhos entraram na minha vida. Mas lembrar desses olhinhos brilhantes amarelos e desse corpinho cinza saltitante dói fundo, aqui dentro.