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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Venha dançar você até o fim

Tenho vivido um turbilhão. Ou turbilhões, e são tantas coisas vindo de tantos lados que escrever virou uma mera atividade cotidiana e automática. Eu amarro as palavras, dou um laço nas letras, amasso rascunhos, e devolvo folhas em branco. Dentro de mim permanece uma grande mancha de tinta. Faz tanto tempo desde que escrevi pelo mero prazer de externar aquilo que sentia aqui dentro. Um bom tempo. 

Sempre penso nisso, todos os dias, enquanto costuro teias e mais teias de hipóteses e teorias dentro da minha cabeça. Penso nisso segurando meu copo de vodka, enquanto raspo minhas botas de R$ 50 no chão nervosamente. Essas mesmas botas que eu uso todos os dias, que não tiro nunca. Isso me consome e arde junto com o gole, que desce pela garganta e eu queimo nisso. E penso nisso quando deito a cabeça no travesseiro e me lembro de um monte de coisas que eu nem queria lembrar. 


Fico tentando me recordar quando foi que eu permiti me deixar perder em essência. Em que ponto eu fui deixando de lado essa minha expressão vital. E quando é que eu vou retomar. Sinceramente? não sei. Não quero saber. Tenho raiva de quem sabe. Porque no dia que eu me cobrar disso, aí não vai fazer mais o menor sentido. 

. faz tempo esse som vem zunindo bem longe além dos suspiros . 

Minhas mãos estão travadas no escuro e eu me sinto dentro de um pesadelo. O de sempre, os gritos, a angústia, o pavor, o medo. O corpo paralisado. Tento abrir os olhos mas eles estão tão congelados quanto meus ossos, presos à cama. Mas aí de repente não é mais real e eu abro os olhos. É outro tempo. É outra vida. 

É como se não houvesse, dentro de mim, o que machucar, nem esses sonhos surreais e esse terror que eu sinto de vez em quando dormindo. Não, ainda há alguma coisa, mas é só um... cansaço. Até nos ouvidos escutam as conversas das torres. Até dentro da minha cabeça eu escuto um zumbido indefinido e que já parece fazer parte de mim. E é nesse zumbido que eu sei que março chega, que eu preciso reconstruir todas as coisas que sinto. Inclusive escrever. 

. pra quem perdeu o sono na velocidade do tempo, que zarpa e cala. 

E faço isso aos poucos, me reconstruo e reconstruo minha escrita, meu ar, de mansinho. No meu tempo, no meu próprio ritmo vital. É pra não me perder na correnteza de novo.