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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Trabalhar pra viver (e viver pra trabalhar)

Minha rotina profissional melhorou muito, depois que decidi uma série de coisas sobre o trabalho. Mas até aqui, foi um caminho meio dolorido. 

Quando eu fazia faculdade, o trabalho (no caso estágio) era apenas uma das coisas que me realizava. Quando me formei, passou a ser a principal, e eu passei a me agarrar mais a ele do que a todo o resto em função do desejo de ter uma carreira rentável. Porém, esse ano eu percebi que, dentro desse turbilhão, eu estava exausta. Não rendia, não pensava, era automático. E isso refletiu no meu desempenho. Além disso, percebi que eu cedia demais, e por isso não estava sendo valorizada; que eu me desesperava por muito pouco dentro do departamento, que não estava dando conta de burlar alguns obstáculos. 

Foi um baque quando notei que aquilo para o que eu estava dedicando 10, 12, 14 horas por dia, não estava dando em nada. Senti como se tivesse perdido tudo (/dramaqueen). 

Então pensei: "Se nada muda, eu mudo". Busquei outras oportunidades, uma melhor remuneração. Reuni textos, gastei tempo pensando nas minhas falhas e em como melhorá-las. Assim, desfilando semanas, hoje estou finalmente num bom momento. 

Ainda trabalho mais de dez horas por dia, pois além de tudo consegui um frila: agora (e nas horas vagas), sou repórter convidada em uma revista mensal, e trabalho basicamente no meu tempo livre: durante a noite e horário de almoço. Também refiz meus modelos de trabalho. Em resumo, parei e respirei. Porque se a gente não para um pouco, revê prioridades e decide o que precisa ser feito, a gente adoece. E aí nenhuma remuneração devolve isso.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uma família de meninas


Somos em quatro, em casa. Quatro mulheres, quatro meninas. Quatro vezes mais esmalte e absorvente. Mãe e suas três patinhas. Eu sou a patinha do meio. 

E somos em cinco netas. Duas mães/tias/madrinha. Uma avó. 

D. Nely é uma senhora de respeito, mas não qualquer uma. Não, o respeito da minha avó é sólido, incorruptível. Ela sorri satisfeita ao ver a família reunida, e todo mundo bem, porque as coisas que ela passou na vida não foram nada fáceis, como a da maioria das mulheres que eu conheço. Seu pai, meu bisavô, costumava apostar tudo numa mesa de jogo, e eventualmente perdia tudo. Meu avô, seu marido, não é lembrado com carinho. Seu Flor, era assim que ele era chamado. 

Minha mãe tem o dedo mindinho entortado por causa do meu avô, pelo dia em que ele se irritou com alguma coisa e tentou bater nela com uma viga de ferro. D. Nely entrou no meio, com toda a fibra que lhe era oprimida no espírito, e impediu que uma mocinha de 12 anos fosse, sei lá, assassinada pelo pai num momento de fúria injustificada. Ninguém fala sobre isso. 

As mulheres na minha família de italianos são o elo. A massa concreta que liga todos os círculos, separados por diferentes cidades do Paraná. Que carregam as crises e gerenciam os festejos de Natal. Que partilham dos ensinamentos, que abrem e fecham o coração. E em quem as marcas ficam pra sempre. 

Minha avó disse pra minha irmã, em um momento qualquer, que não queria que nenhuma de nós casasse. Não, que uma família de mulheres é suficiente. Que nós temos que pensar em nós mesmas, e viver tudo aquilo que queremos. Estudar, viajar o mundo, ela disse. Minha mãe pensa assim, minha madrinha pensa assim. Nesse nosso mundo que ainda é tão cheio de raízes que dizem o oposto, elas fizeram da gente pássaros, mas não pra ficarem engaiolados, como elas foram. Em casamentos, em relacionamentos, em empregos, aos filhos, aos maridos. 

Madrinha, a segunda mãe de todas nós, voou, em algum momento. Deixou os grilhões de um relacionamento frustrado. Saiu de casa com a roupa do corpo e a filha pequena debaixo da asa. Todo enxoval caro do casamento, os lençóis e as baixelas, ela largou pra trás, sem nem olhar duas vezes. 

Ela faria uma fogueira com essas coisas se pudesse, eu tenho certeza. Tudo pra que hoje, nós, os pássaros, não precisemos lutar essas batalhas. Nós temos as nossas, algumas diferentes. Mas eu me sinto muito orgulhosa de ser dessa família de Valquírias. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Espelhos modificados

Foto: Alexis Prappas.

Quem acompanha meu twitter (que é bloqueado por inúmeros motivos gente, dsclp, mas você pode dar follow request se achar que deve) sabe que recentemente eu trabalhei como assessora de imprensa de um concurso de miss

Antes de mais nada: sim, eu fiz cara feia, quando o gerente da redação (a.k.a Renato, o @filhodapauta) me perguntou o que eu achava de concursos de beleza. Achei que ele estava tirando a maior onda com a minha cara, e eu simplesmente disse o que eu achava: perda de tempo. Falta de carpir lote. Futilidade. 

E, passados dois meses, eu simplesmente agradeço ao universo por ter acesso a tantos mundos diferentes do meu, e assim, aprender gradativamente a julgá-los com menos severidade, com menos olhares de reprovação e de asco espontâneo. Dessa forma, eu reitero aos poucos a minha própria opinião, depois de viver aquilo. Sem deixar minha visão pessoal contaminar qualquer observação que tenho acerca. Só digo uma coisa: mais do que ser miss ou não, não é fácil ser mulher. Daqui a pouco eu explico. 

Se há poucos dias eu estava imersa em um festival de cinema LGBT, semana passada quase enlouqueci enquanto pensava em pautas sobre make up, hair stylist, vestidos e outros assuntos relacionados. Nada disso faz parte do meu mundo, de menina gorducha sem paciência pra beleza, mas eu fiz, mesmo que por pouco tempo, parte do mundo deles, como jornalista, assessora e observadora. 

O Miss Mato Grosso do Sul elegeu no dia 9 de agosto a moça que representará meu estado no Miss Brasil, e quem sabe, no Miss Universo. Mas antes disso, nós começamos o trabalho, primeiro, de divulgar que as seletivas para o concurso estavam abertas. Nessa etapa participei pouco, em função de outros trabalhos. Peguei o negócio muito mais quando estava próximo do evento. 

Meu primeiro grande choque foi conhecer a Miss Brasil, Priscila Machado, convidada para apresentar o evento. A moça é mesmo incrivelmente linda, e tudo nela é extremamente impecável. Então, durante uma entrevista que acompanhei, ela revelou que quase tudo em seu corpo passou por alguma intervenção cirúrgica: rinoplastia, lipoaspiração, silicone. Meu primeiro pensamento: "Cara, como assim?". Meu segundo pensamento: "Que droga de mundo". Sim, que porcaria de mundo onde a beleza ideal é alcançada, apenas por meio de bisturis e intervenções. 

No extremo oposto do mesmo concurso estavam as garotas daqui, as concorrentes daqui. Algumas já modelavam há alguns anos, outras vieram mesmo do interior e fizeram campanha entre parentes e amigos para arrecadar o dinheiro da inscrição. Do outro lado do ringue, elas não tinham modificações corporais, apenas sonhos de serem as mais belas. Muitas tímidas, de fala típica. Algumas mais tranquilas, outras com cara e perfil de terem nascido em berço de ouro. 

O segundo choque que me veio nesse turbilhão foi notar a expressão das moças durante o concurso, de alegria sustentada na cara pra agradar, tentativa de charme e personificação de beleza ideal. E olhar pra elas, e perceber que naquele momento, havia mais de 400 pessoas julgando todas elas, ao mesmo tempo. Elas, sujeitas a isso por um sonho e por vontade própria. Ao meu lado, comentários de "aquela ali é gorda demais para ser miss", "olha aquele nariz", e coisas do tipo. Meus julgamentos particulares acabaram aí. Aprendi a não julgar dessa forma tão... desumana, porque não consigo encontrar outra palavra pra definir os comentários que ouvi entre os corredores. 

Na minha cabeça, alguma coisa muito forte me dizia que elas eram algum instrumento social de objetificação, e que homem não passa por isso nem é julgado com tanta minúcia a ponto de ter de modificar seu corpo inteiro à base de faca (ou será que é e eu tô errada?). E que esse sonho todo, é apenas um prelúdio pra uma carreira onde vão mandar você se portar, se vestir, e ser do jeito que manda a moda, a tendência, o ideal inalcançável imposto pela indústria. E esse sonho é muito, muito triste. Mas eu penso isso, individualmente. Elas não são diminuídas pelo meu intelecto, nem eu pela beleza delas, ou pela forma que cada um usa o seu pra viver. A gente é igual, de qualquer forma. A gente é mulher. 

O que tirei desse trabalho, foi a seguinte frase, que ouvi da organizadora do evento, nossa cliente da assessoria de fato: "Tem que ter estômago pra enfrentar um negócio desse. E a menina que ganhar, mais ainda. E se ela não for inteligente nem tiver a cabeça boa, esse mundo acaba com ela". 

Acaba. Até seu reflexo no espelho muda. Um dia você deve acordar em meio ao glamour e não se reconhecer mais. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Gosto mas não assumo: 'E-e-e stop telephone me-e-e-e"



O Volta Mundo Blogueiro fez um desafio de blogagem coletiva. Que tal se a gente postar algum gosto pessoal do qual sente certa vergonha?

Você gosta de Lady Gaga? pois é, eu não, ou melhor, é isso que eu digo pras pessoas. Eu sou a menina que gosta de Slayer. Que teve várias bandas. Então gostar de Lady Gaga pra mim é uma certa queimação de filme. Mas bom, não é bem de Lady Gaga que eu gosto. É de um único clipe, que me deixou toda impressionada quando assisti pela primeira vez, acho que em 2009. 




Meu deus, pensei, enquanto escondia da vista de todos a descoberta, do novo clipe de Lady Gaga & Beyoncé, "Telephone". Eu fazia estágio no MP na época, e comecei a ouvir a música no repeat, direto do clipe, que conta com quase 10 minutos de duração. Na história, segundo os entendidos, Gaga vai pra prisão depois de assassinar o namorado no clipe anterior (Paparazzi, que eu acho uma chatice sem precedentes), sai da cadeia, e ajuda a Honey B a matar o namorado jackass

A pussy weagon, de Kill Bill, estava lá. E o que era aquele beijo na prisão, Stefanni Germanota? E o ritual de assassinato na lanchonete? e as dancinhas com galera morta? E o visu meio Betty Page da Beyoncé? e aqueles dançarinos fazendo coreografias estranhas? Final meio Thelma & Louise: "We did it, Honey B. Now let's go far far away from here". ❤❤❤

Bom, esse foi o segredo que escondi a sete chaves, até agora. Eu adorei esse clipe, assisti tantas e tantas vezes e gosto até hoje! Não condiz com a minha personalidade de pessoa-chata-que-odeia-pop, mas vai, é sensacional. 

Enjoy. (Tenho até medo do próximo desafio do VMB. Fato).