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domingo, 9 de setembro de 2012

A noite é rotineira

"Porque estás tão misantropa, Meninalyra?"

O cenário que eu chamo carinhosamente de 'minha vida' não anda propício. Meu corpo se separa da minha consciência e reclama de ter que dormir tarde, passar muito tempo na rua. Parei de fumar e dei um tempo na cachaça. Eu era menina faceira que amanhecia na rua e agora me sinto uma velha de 100 anos. 

Me obriguei então a enfrentar o asfalto, o humor pesado como anda sempre nesses tempos meio negros, meio complicados. Coloquei um bom traje de guerra e pintei no rosto a camuflagem perfeita, que diz hey, veja como eu não ligo pra nada, só pra minha cerveja de hoje e tal! e ousei colocar os pés fora do meu bunker de segurança, minha própria casca. 

No bar, resisto bravamente à vontade de fumar. I quit, baby. Todos fumam ao meu redor. Tento concentrar minha atenção numa rotina que eu vejo desde sempre. Começo da noite é travado, é sempre macilento e odioso. Não há álcool o suficiente nas pessoas. Ouço um "vamos beber?". Meu copo está preparado pro holocausto. 

Encosto no bar e esvazio copos. Fumo por osmose, enquanto algum random guy sopra fumaça do meu lado e puxa assunto, que eu correspondo por cortesia. Ouço conversas que não fazem sentido, e outras que fazem. Ali, parada, com um copo entre as mãos, parece que estou naqueles filmes onde o personagem fica parado e todo mundo vive em velocidade maior ao redor dele, mas ele não. Ele permanece em slow motion. 

Passa das três quando saio do estupor e começo a engajar conversas com desconhecidos. Já estou meio alcoolizada. É sempre engraçado. É sempre a mesma coisa, a mesma rotina. 

Só penso, no final: "Que puta ressaca terei amanhã". Acordo com bombas dentro do crânio. 


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