Parece cocaína, mas é só tristeza
Talvez tua cidade.
Muitos temores nascem do cansaço, e da solidão
Descompasso, e desperdício.
Sei lá porque mas hoje passei o dia todo com essa música na cabeça. Desde que roubaram meu celular velho, onde eu escutava música, só consigo ouvir em casa. Aí por não ouvir música mais durante o dia, sempre que alguma coisa encafifa na minha cabeça, lá ela fica. Hoje foi "Há tempos", música que eu ouvi por demais quando era criança, e acho que ficou na cabeça talvez porque falamos (na redação) do filme sobre o Legião Urbana que vai ser estrear amanhã. Sei lá.
Só sei que há tempos tive um sonho, não me lembro, não me lembro.
Os dias tem sido pesados. Primeiro de tudo, eu parei de fumar. Há três semanas. E venho resistindo aos pequenos grandes impulsos, como comprar cigarro na banca. Ter pessoas fumando do meu lado e me contentar em permanecer em um silêncio resignado. Enganar a hora fatídica do cigarro no expediente tomando mais um copo de café. Eu não era a fumante mais viciada das galáxias, mas mesmo assim decidi parar. Mais um vício que deixo pra trás
É dificil quando já estamos acostumados a não termos mais nem isso.
Eu voltei a fumar numa época muito específica da minha vida. Havia parado há seis meses. Numa quarta-feira de outubro, em 2011, terminei um relacionamento de 8 anos. Na primeira semana, eu fingi que nada aconteceu. Mas o descontrole veio. E na época, eu estava no meio de um relatório complicadíssimo de uma mostra de arquitetura, ainda na assessoria de imprensa. Precisava retomar algum controle, ou não daria conta. Precisava concluir aquilo pra depois explodir. Senão explodiria de um jeito irreversível.
Meu grito acordaria não só a sua casa, mas a vizinhança inteira.
Sai tremendo do trabalho, as lágrimas rolando enquanto pensava no que fazer, mas eu lutava contra ela, aquela tristeza tão exata. Queria gritar, queria quebrar alguma coisa. Não terminei esse relacionamento do jeito mais fácil. Eu abri meu peito e arranquei aquele ser, que hoje me é um completo estranho, à força de dentro do peito. Então, no meio disso, eu precisava me concentrar. Não tive dúvidas, e voltei a fumar. Encontrava no cigarro um momento de calma, só meu, de reflexão. Hoje eu sei, e lá eu também sabia o quão autodestrutivo é isso. Pra me concentrar, eu arrumei um jeito de me destruir, porque na minha cabeça quebrada, eu queria sentir alguma coisa. Não era o controle apenas para o trabalho que eu queria, era a frieza, a placidez da destruição de tudo que me fazia saudável e bem. De algum jeito, eu me sentia imune à dor porque não sentia mais nada. Fumar virou hábito de novo.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
Há quase um mês eu fiquei muito doente. Não faltei ao trabalho porque sou teimosa, mas alguns dias eu nem sei como dirigi até o jornal. Foi uma gripe, um resfriado, uma tuberculose ou sei lá o que. Fiquei imprestável como há muito tempo não ficava. Ainda guardo um pouco de tosse e ranço na garganta, alguns espirros, mas melhorei. Então no decorrer desses dias acamada, e sem poder dormir três dias seguidos pra me recuperar, deixei o cigarro de lado em um dia. Depois no outro. E no seguinte. E depois de uma semana, anunciei em alto e bom som: parei de fumar. E não tô contando os dias exatos, fazendo calendário. Apenas deixando ir, deixando pra lá. Resistindo com as minhas forças. Tem dado certo.
Disciplina é liberdade? acho que sim. Acho que se não é pra mim, vai passar a ser. Eu devo isso a mim mesma, mesmo que já faça tempo. Há tempos.
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