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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Um pouco mais de Frida, por favor

Cidade do México, 
14 de abril. 

"Por 50 anos, o banheiro do quarto de Frida Kahlo permaneceu trancado após sua morte, na casa onde hoje funciona um popular museu na Cidade do México. O espaço só foi aberto há dez anos, revelando diversos baús de objetos íntimos, como cartas, fotografias e vestidos coloridos. 

Enquanto as correspondências viraram livros sobre a artista mexicana, seu guarda-roupa e suas fotos vão aos poucos chegando ao público. "Ela usava estes vestidos tradicionais para fortalecer sua identidade, reafirmar suas crenças políticas e para esconder suas imperfeições", diz a curadora Circe Henestrosa. "Seus amigos mais íntimos contam como Kahlo tinha um cuidado especial ao escolher o que vestir, dos pés à cabeça, com as mais lindas sedas, laços, xales e saias". 

A exposição traz também aparatos médicos que a artista precisava usar por conta de suas doenças (primeiro pólio e depois um acidente num ônibus). Há uma prótese de perna com uma bota de cano alto vermelha e um espartilho feito de gesso, decorado com uma foice e um martelo. 

Foi o muralista Diego Rivera (1886-1957), marido de Kahlo (1907-1954), que havia dado as ordens para manter o banheiro fechado por 15 anos após a morte da artista. Mas a mecenas Dolores Olmedo (1908-2002), amiga íntima de Rivera que tinha ciúmes de Kahlo, conseguiu manter o lugar lacrado por mais tempo. "É como sentar em sua sala de estar e folhear seu álbum de fotos. É muito pessoal", disse o presidente do museu, Stuart Ashman". 

Campo Grande, 14 de abril. 

Frida, Frida, Fridinha, com suas flores na cabeça e seu olhar desafiador. Hoje você fez meu dia menos cinza com essa notícia, de que um dia, quem sabe, eu posso chegar perto dos seus vestidos rodados, das próteses que fizeram você sofrer e também de pequenos mimos que fizeram parte de você. 

É que agora Frida, eu sou editora. Trabalho mais, tenho mais responsabilidades, e amo o que faço. Consigo por em prática tudo que imaginei ser possível durante um ano que fui repórter. Consigo construir, no dia-a-dia, toda a logística que acho válida dentro do caderno de cultura. Mas tem dias cinzentos pra essa jornalista que escreve. Tem dias difíceis, e não pela pauta ou pelo trabalho, talvez por outras coisas. Dias que a única coisa é sentar e trabalhar, e que você sente que não tem mais nada na sua vida tão coeso. Que suas responsabilidades são sua âncora, e que você se sente meio oca. A garganta dói, a cabeça perturba, os pensamentos assombram. 

Abri o site da agência e lá estava você. Segui buscando uma imagem para ilustrar a reportagem e minha retina ficou perturbada ao olhar tantas e tantas fotos suas, linda, esplêndida, as flores, a saia, os seios, tudo. E abri outros sites, outras reportagens, e mais imagens, e seus quadros, e tive quinze minutos de contemplação. Mais Frida no meu dia, por favor. Mais suas cores em mim. 




(A matéria é da Folhapress)

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