Na última sexta-feira (24), fui uma das participantes da mesa redonda "Mulheres no Jornalismo: O que queremos" organizada pela semana de jornalismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a simpática Semajor. Ao lado de outra jornalista com o perfil completamente diferente, tinha a missão de falar sobre o que é ser jornalista e mulher. Pois bem.
Rasguei o protocolo quando abri a fala dizendo que não dá pra falar sobre ser jornalista e mulher se a gente não discute quem é a mulher na mídia brasileira e quiçá mundial. Como vamos falar sobre o que é ser mulher dentro das redações, se dentro e fora delas, a gente ainda sofre desgraçadamente com um machismo que impera pras jornalistas ou não? impera pra todas nós?
As mulheres representam mais de 60% dos profissionais hoje dentro da área de jornalismo, entre assessorias e veículos de comunicação. Mas uma pequena parcela dessas mulheres está em um cargo de chefia. E a maioria esmagadora ganha menos que os colegas no mesmo cargo.
A pesquisa detalhada foi feita pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e você pode checar em detalhes aqui. E o mais triste é que ela foi fazer um mapeamento do perfil do jornalista brasileiro e voltou com essa triste constatação de que, em mais uma área, a mulher é muito menos valorizada do que devia. E que o perfil do jornalista brasileiro é, pasmem, a jornalista brasileira. Citando a própria pesquisa: "(...) os jornalistas brasileiros eram majoritariamente mulheres brancas, solteiras, com até 30 anos". TÃ DÃ! (vinheta do Law & Order).
Quando essa pesquisa veio à tona, o impacto foi mínimo mesmo a informação sendo incongruente: 1. Tem mais mulheres nas redações. 2. Elas não ocupam cargos altos e ainda tem salários menores. Chorei largada na cantareira.
Mas muito além disso, o que mais me incomoda é como tratamos as mulheres na mídia. Quer dizer, o que publicamos sobre nós mesmas, sobre nosso próprio gênero. E foi sobre isso que falei na mesa, sobre as três vertentes da mídia machista: A "Musa" de qualquer coisa (insira aqui um grande evento brasileiro, principalmente esportivo. Apenas aguardando as ~musas das olimpíadas~). A reportagem "Por ciúmes, homem mata a esposa" (vamos começar a produzir matérias "por fome, ladrão rouba supermercado" aí por favor?) e a matéria do "suposto estupro" quando tem a palavra flagrante no mesmo parágrafo.
Se sutilmente a gente massacra a mulher no nosso discurso jornalístico cotidiano, entre pautas e leads, vai ser diferente com a mulher jornalista? como discutir a vida dessa profissional (essa cara sou eu) se enquanto mulher, enquanto membro de uma sociedade, sou desvalorizada o tempo todo única e exclusivamente pelo meu gênero?
É por isso que precisamos analisar nosso discurso sendo essa mulher jornalista. Sendo essa profissional que tem o poder de escrever o cotidiano das pessoas em qualquer mídia que seja. Mas nosso colega jornalista, aquele que ainda ganha mais do que a gente, também precisa. Vamos analisar nossos julgamentos pessoais sobre as matérias que a gente escreve. "Olhar sensível" das mulheres sobre a pauta não existe, a gente é treinada desde criança pra achar que tem que ter esse olhar. Mas o olhar crítico todo mundo pode ter.
PS: Seu machista, pega aqui na minha pauta e balança! Olhar sensível é o deadline da sua cara! risos.