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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A mulher jornalista

Na última sexta-feira (24), fui uma das participantes da mesa redonda "Mulheres no Jornalismo: O que queremos" organizada pela semana de jornalismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a simpática Semajor. Ao lado de outra jornalista com o perfil completamente diferente, tinha a missão de falar sobre o que é ser jornalista e mulher. Pois bem. 

Rasguei o protocolo quando abri a fala dizendo que não dá pra falar sobre ser jornalista e mulher se a gente não discute quem é a mulher na mídia brasileira e quiçá mundial. Como vamos falar sobre o que é ser mulher dentro das redações, se dentro e fora delas, a gente ainda sofre desgraçadamente com um machismo que impera pras jornalistas ou não? impera pra todas nós?

As mulheres representam mais de 60% dos profissionais hoje dentro da área de jornalismo, entre assessorias e veículos de comunicação. Mas uma pequena parcela dessas mulheres está em um cargo de chefia. E a maioria esmagadora ganha menos que os colegas no mesmo cargo. 

A pesquisa detalhada foi feita pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e você pode checar em detalhes aqui. E o mais triste é que ela foi fazer um mapeamento do perfil do jornalista brasileiro e voltou com essa triste constatação de que, em mais uma área, a mulher é muito menos valorizada do que devia. E que o perfil do jornalista brasileiro é, pasmem, a jornalista brasileira. Citando a própria pesquisa: "(...) os jornalistas brasileiros eram majoritariamente mulheres brancas, solteiras, com até 30 anos". TÃ DÃ! (vinheta do Law & Order). 

Quando essa pesquisa veio à tona, o impacto foi mínimo mesmo a informação sendo incongruente: 1. Tem mais mulheres nas redações. 2. Elas não ocupam cargos altos e ainda tem salários menores. Chorei largada na cantareira. 

Mas muito além disso, o que mais me incomoda é como tratamos as mulheres na mídia. Quer dizer, o que publicamos sobre nós mesmas, sobre nosso próprio gênero. E foi sobre isso que falei na mesa, sobre as três vertentes da mídia machista: A "Musa" de qualquer coisa (insira aqui um grande evento brasileiro, principalmente esportivo. Apenas aguardando as ~musas das olimpíadas~). A reportagem "Por ciúmes, homem mata a esposa" (vamos começar a produzir matérias "por fome, ladrão rouba supermercado" aí por favor?) e a matéria do "suposto estupro" quando tem a palavra flagrante no mesmo parágrafo. 

Se sutilmente a gente massacra a mulher no nosso discurso jornalístico cotidiano, entre pautas e leads, vai ser diferente com a mulher jornalista? como discutir a vida dessa profissional (essa cara sou eu) se enquanto mulher, enquanto membro de uma sociedade, sou desvalorizada o tempo todo única e exclusivamente pelo meu gênero? 

É por isso que precisamos analisar nosso discurso sendo essa mulher jornalista. Sendo essa profissional que tem o poder de escrever o cotidiano das pessoas em qualquer mídia que seja. Mas nosso colega jornalista, aquele que ainda ganha mais do que a gente, também precisa. Vamos analisar nossos julgamentos pessoais sobre as matérias que a gente escreve. "Olhar sensível" das mulheres sobre a pauta não existe, a gente é treinada desde criança pra achar que tem que ter esse olhar. Mas o olhar crítico todo mundo pode ter. 

PS: Seu machista, pega aqui na minha pauta e balança! Olhar sensível é o deadline da sua cara! risos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Curvas

Completei hoje um mês morando sozinha. Entre xícaras de bolinha e momentos de paz e silêncio, completei uma etapa da minha vida. Em comemoração adotei mais uma gatinha, pra fazer companhia pra minha bravinha Panci, que passava muito tempo forever alone em casa. O nome escolhido combina com o quanto ela é voluntariosa, cheia de vontades e corajosa: Arya. (em homenagem à Arya Stark, veja bem). 

Fico me questionando, às vezes, se faz bem viver pra objetivos. Eu tinha esse, de morar sozinha, ter meu canto, minha casinha, há tanto tempo que perdi as contas. Agora eu consegui realizar ele e nada me faz mais feliz do que falar "vamos lá em casa que eu vou cozinhar" pras pessoas queridas. Agora vamos ao próximo, é a frase que martela minha cabeça. 

Da curva não sei mais nada. Penso que às vezes, a gente acha que vai chegar no fim da estrada quando realiza algo grande na vida. Mas me sinto ladeando essa curva, e alguma coisa maravilhosa me espera no fim, ou assim eu tento pensar. Eu sei que a jornada é tão importante quanto a chegada. E por isso vou suave. 

Esperando por mais curvas. 

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Eu quero ser escritora.  





sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Qualquer dia...

Qualquer dia eu vou acordar e te ver ressonando do meu lado, dormindo tranquilo porque seu sono é bem mais tranquilo que o meu. Eu me debato, resmungo, falo dormindo mas você não, então eu sinto, e sempre senti, que é como se você guardasse meu sono, me protegesse, me mantivesse segura quando eu cruzo as fronteiras do subconsciente, esse mundo aterrador onde as lembranças se transformam de uma forma nunca segura, sempre traiçoeira. 

Mas eu me sinto segura qualquer dia quando acordo ao seu lado. 

Qualquer dia eu vou ouvir você me contando sobre seu telescópio e sobre as coisas que você gosta, e sobre seu livro sobre guerras mundiais, e sobre seu seriado favorito que eu vou assistir. E você fala com paixão e ri da minha cara quando eu falo que seus gostos são engraçados, e me abraça dizendo que a minha banda favorita é tosca, depois de encher meu computador de música que você gosta. 

Qualquer dia você vai chamar a minha gatinha de gorda e vai fazer carinho do jeito exato que ela gosta, de uma forma que eu eu nunca vi ninguém fazer. E vai achar engraçado que ela goste tanto de você e fique te seguindo pela casa de um lado pro outro, miando, pedindo atenção, dizendo que ela é linda e engraçada e se parece comigo. 

Qualquer dia ela vai se aninhar em você pra dormir, porque assim como eu ela ama o seu calor. 

Qualquer dia eu vou comprar cada ingrediente do seu prato favorito com carinho, vou pegar minha panela favorita e vou cozinhar com toda a paixão que puder reunir em pimenta e sal. E vou te olhar comer e elogiar aquele prato que fiz, como se a comida que eu preparei pudesse traduzir tudo que eu sinto em demasia. 

E qualquer noite vou cutucar você com a ponta do meu pé por debaixo da mesa do restaurante chique, sem ninguém perceber, arrancando um sorriso de você enquanto você estende a mão e percebe que eu tirei o sapato quando alcança meu pé com as unhas escarlates. Sinto sua mão quente acariciando minha pele, quando você estende sua mão sobre a minha por cima da mesa de linho.  

Qualquer dia vai doer menos. Mas nunca vai ser menos amor. 


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Lar doce

"Casa" é a designação, o significado, a roupagem, o começo-meio-fim de um sentimento intenso de paz e sossego.

Para mim, e apenas para mim, é um todo palpável.

É um abraço que envolve seu corpo inquieto e que no momento do toque faz você transpirar calma de uma forma que você não pensasse possível.

É um momento de assistir televisão de pernas para cima, rindo de alguma coisa boba em um filme, onde não existem preocupações urgentes. É o cheiro de alho fritando na panela da cozinha enquanto pessoas queridas riem na sala.

"Casa" é chegar, abrir a porta, e uma felina se enroscar nas suas pernas te dando boas vindas com um miado fininho e alegre de saudade.

É você saber que cada coisa que está fora do lugar, na verdade, está no lugar que sempre deveria ter estado, porque tudo aquilo é você e seu lugar é ali. Apenas ali.

E tudo que te amargura e que te entristece deve ficar do lado de "fora". E quando você está ali na sua "Casa", você trabalha seus sentimentos de forma a criar aquela couraça pra lidar com seus medos quando pisar o pé lá "fora". Pra que, um dia, o "fora" não exista.

Só a "Casa".