Quem eu era, há alguns anos. A menina que eu fui quando adolescente. Os diários que eu sempre escrevi. Tive um milhão de agendas, cadernos, livrinhos de desabafo. Eu sempre gostei de escrever pra desabafar.
Desses milhares de diários, alguns cadernos ainda permanecem, que eu escrevi na adolescência. Eu sai da casa dos meus pais e não sei porque senti que precisava deles na minha casa nova. Não folheei nenhum durante a mudança.
Todos os escritos são reticências de ser adolescente e ter um monstrinho de dúvidas e inquietações dentro de você. E como tudo isso se conecta à mim hoje, quando minha única concessão é escrever nesse blog, raramente, assumo, menos do que deveria.
Desses cadernos e linhas e folhas de papel, o que sobrou de mim. Ontem a noite precisei abri-los e foi como abrir uma cápsula do tempo, o que na verdade eles são. E perceber que o ensejo não mudou. A música ainda é a mesma. Os desejos de adolescente eu tranquei numa caixa de chumbo aqui dentro. Mas eu não posso continuar mais negando que eles existem e eles já estavam lá naquela época.
Eu já imaginei criar uma fogueira enorme com esses cadernos e queimar tudo, os canhotos de cinema, os desenhos, os recadinhos de amor e as letras de música. Já imaginei ver aquilo ardendo, queimando, meu passado e minha definição. Mas desisti. Ás vezes a gente precisa se encontrar um pouco. Aquela menina risonha e que funcionava à mil, eu não consigo mais acreditar que não sobrou nada mais dela. A gente não pode aceitar que se perdeu entre os numerais 15 e 30. Nossa idade. Nosso crescimento.
Março, esse mês que se aproxima, quando eu completo, no dia 31, meus 26 anos, sempre me faz refletir dessa forma. Sempre, como aqui. Fuçando nos diários como se fossem tábua de salvação, encontrei a data onde eu comecei a odiar aniversários, em 2004, a contabilizar o caos e a amargura não de ficar mais velha, e sim de me sentir mais frustrada, quando nada que eu imaginei aconteceu. É um sentimento ruim por tempo demais.
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Março chegou. Sempre que eu lembro do mesmo mês no ano passado, sinto um aperto no peito. Eu tinha tanta certeza sobre tantas coisas. Sobre o que eu era, o que eu queria e onde iria estar. Minhas certezas eram de ferro. E eis me aqui, vivendo outra vida, que em nenhum momento foi planejada por mim. Março me faz olhar pra trás, pra todos os dias 31 que já passei e lembrar com muita clareza desses planos que nunca floresceram.
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Eu disse em março de 2013. Não mais
Esse ano, prometo, vou deixar os diários e o mês de março em paz. E só assim vou sorrir com 26.