Páginas

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

"Rock de Menina"

De vez em quando eu desapareço do blog porque minha escrita trava, como eu já expliquei pra vocês aqui. É uma tarefa muito árdua pra mim, às vezes, escrever, porque meu ganha pão é esse e o desafio é não me perder nesse emaranhado de letras. Eu passo o dia inteiro escrevendo. E quando quero escrever, me faltam palavras. Mas não desistam de mim. 

Hoje fiz uma descoberta musical daquelas genuínas e por acaso. Me perguntaram se eu conhecia Far from Alaska. Coloquei no Youtube e senti uma formigação dentro do estômago, maravilhosa, como há muito tempo não acontecia. 

Ouvi essa música. Um vórtice de pensamentos e lembranças aterrissou sobre a minha cabeça. Meu deus. 

Que força, gente. Que força. 

Procurei sobre a banda e descobri que eles são de Natal (RN), brasileiros. E fui ouvindo a música mais e mais e lembrando de como era ter banda, das bandas de metal que eu tive. Deixando a música FODA de lado, me identifiquei com a moça vocalista. Uma vez reclamei de ter dificuldades em encontrar bandas de stoner rock com vocais femininas, e taí uma delas pra me tirar o chão. 

Emily, não te conheço, mas já te amo. Sua voz não só me impressionou como me senti sob os seus ossos nesse vídeo. Uma garota de camiseta, jeans, sem maquiagem, gritando letras fortes e irônicas. Sem ser objeto, sem ser necessariamente magra, loira, cantando dilemas de amor e falando de namorado nas músicas, porque ela fala sobre o que ela quiser, usando a ironia que quiser e os palavrões e o idioma que ela quiser. Porque é isso que a maioria dos roqueiros de plantão acham que mulher tem que fazer no rock: cantar letrinha babaca sobre algum macho, provavelmente com uma voz fina e infantil. Porque mulher que canta grosso (como eu cantava), não pode ser levada à sério. Wait, shut! 

Quando eu tinha  16 anos, tinha uma banda que tocava som pesado e fazia cover de bandas de metal femininas gringas. A gente foi tocar em algum buraco da cidade e lembro que eu usava um shorts largo, uma camisa preta, bota e aquele cabelo batendo nas costas. Eu tocava uma guitarra preta flying v, e aquele era meu momento de gritar e berrar em gutural. E na banda tinham outras duas meninas. E lembro de estar encostada em um pilar esperando nossa vez de de tocar e ouvi um diálogo: "aquela que é a vocalista? isso aqui não é show da Sandy não", disse o ~headbanger~. 

Lembro que subi no palco e abri o maior gutural que consegui. Virei pra ele, entre uma segurada de palheta e outra, e mostrei o dedo do meio. 

Foda-se você, seu machista. O choro é livre porque as mulheres vão continuar nadando contra a maré social desse mundo misógino. Se conforma. Aqui vai meu gutural pra você. 

E Far From Alaska me trouxe toda essa sensação de volta. Um dedo do meio entre as seis cordas bem grande pro machismo. 

We rock, girls. 

She says, "I gotta tell you my story, man
The right story, man"
(Because yours is a lie)
Wait, shut, I gotta tell you my story, man
The whole story, man



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários.