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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Looping

Acende o cigarro no escuro, senta, pensa. Um trago, dois tragos. Toda segunda-feira eu decido parar de fumar, toda terça-feira eu falho. Fumaça,  cheiro de menta. O preço do cigarro aumentou, hoje comprei na banca e vi que havia ficado mais caro, assim, do nada. 'Você devia parar de fumar'. Eu deveria parar de fumar, penso na segunda-feira. 

Na sexta-feira passada voltei do bar caminhando calmamente. Onze horas. A hora em que eu deveria esperar, de camisa de flanela vermelha recém-comprada e maquiagem no rosto, pra brincar de ser o que eu quisesse, menina e rainha. Mas sigo resoluta pra casa, deixando o tempo fazer seu trabalho árduo e honroso, o de esquecer.

Quarta-feira e eu me sinto exausta. O corpo dói e me sinto uma velha, cada osso retinindo inquieto, as costas pesam e o cansaço me deixa irracional. Quero cama e aconchego. Quero reclamar e dormir em posição fetal, esquentando o frio que vem de dentro pra fora. Quero solidão e que me deixem quieta no meu canto e em silêncio. 

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Quinta-feira não quero ligar o computador, mas acabo ligando, mesmo que invisível em todos os circuitos. Cerveja ocasional com um amigo ou outro. "Você anda sumida". Não ando não, vivo na mesma casa, no mesmo quarto, no mesmo corpo. Atrás da loja de calçados, próximo da avenida movimentada. Eu só sumi do que não me importa muito, mas aí descubro que até essas coisas são essenciais. Elas fazem parte de uma realidade paralela, por onde eu transito quando me dá vontade. E é assim, simples, aceita quem quiser e quem não quiser também, boa noite. Quinta tenho sempre energia, e vontade de fazer mil coisas e escrever e editar e tocar violão e arrumar os livros. Insônia. 

Insônia, insônia. 

"Tô saindo", eu digo pra alguém que não vai ligar muito, e bato o portão. Caminho pelas ruas, sento no bar porque é sexta-feira. Volto pra casa, porque sábado cedo eu trabalho. "Não, nem quero ir pra balada, amanhã cedo eu trampo". Chego e não durmo, só engano. Óculos escuros pra esconder olheira. Exausta. Animada. Quero reclamar. Onze horas. Insônia. 

Looping. 

'Droga, me perdi de novo'. 

Como naquele dia, naquela semana, em que minha memória se escoou pelo ralo e eu me perdi de casa.

Sábado, domingo. Não vi passar e não sei dizer. Oito horas da manhã, o sol na cara e a maquiagem escorrendo pelos cílios. A sola do tênis que ganhei por último já tá ficando gasta. Colocar eles no pé no sábado me faz sentir que eu posso fazer qualquer coisa que eu quiser. Domingo eu não me lembro de nada, e fico contida, presa na gaiola, por vontade própria. Desligo dos outros e gostaria que se desligassem de mim.

Já é terça-feira. Eu devia mesmo parar de fumar. 

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