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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sem metas de fim de ano, só a estrada

Nos últimos dias, eu abri isso aqui várias vezes, me deparando com o branco. Pensei em vários temas pra escrever, mas me fugiu a inspiração, a vontade. Mas dezembro se aproxima, o próximo ano se aproxima. Fiquei com vontade de desabafar o que quer que eu tenha aqui dentro

Sinceramente, eu quero muito que 2012 acabe. Por milhares de razões que nada tem a ver com renovação. Eu quero mais mesmo é dar as costas pra todas as merdas que me aconteceram esse ano. E quero abraçar e levar comigo aquilo que aconteceu de bom, e que felizmente também não foi pouco. Mas as coisas ruins, os contratempos, as amizades inexistentes, as histórias sobre ex-namorado fracassado, os momentos de angústia, de rejeição, de tristeza, isso tudo eu vou é chutar pra fora daqui e de mim. Quero nem saber. 

Os pedaços ainda estão aqui pra serem colados, mas eu não me importo. Não sinto a menor pressa. Todo o resto tá indo bem, e tem tanta coisa boa que me aconteceu durante esses 365 dias, que no final tá tudo equilibrado. 

No momento eu me sinto como a letra de Infinity, do Queens of the Stone Age (que eu verei show pela segunda vez em março, e isso me deixa feliz demais): "I got a hole and I’ll never go home / There ain’t no one thing. A new road, a new road/ You never get right back". Um buraco que não vai mesmo se fechar, então que se foda, eu vou pegar outra estrada e começar tudo de novo. E essa estrada vai passar por mim e depender somente de mim. 

E realmente, não vou prometer muita coisa pra 2013, além da matrícula nas aulas de yoga. Talvez ajudar mais gatinhos de rua do que esse ano. Com certeza trabalhar mais e melhor. E aproveitar todo mundo querido como sempre. E comer muito gelato de pistache. Ter mais empatia pelos outros. E sentir que vivo, mas cada vez mais intensamente. 



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Amor não é temporário

Minha amiga queridona Stéphane Velasco vive um dilema de mãe de gatos de primeira viagem: ela acaba de realizar seu primeiro resgate. Achou uma gatinha pequenina na rua, brigando com outro gato maior. Stéphane já te dois gatos adultos, Acerola e Sardinha. A princípio, ela resolveu doar a pequena para uma moça contactada via Facebook, mas agora tá naquela dúvida que assola todo mundo que já foi, ou é lar temporário pra algum animalzinho carente: doar ou adotar?

De 2007 a 2009, eu alimentei diversos gatinhos no campus da minha universidade, realizei alguns resgates e fui lar temporário muitas vezes. E vou dizer, não é fácil. A gente sempre acha que faz pouco e que não é o suficiente. Mas uma coisa eu aprendi: não fazer absolutamente NADA é que é pouco. Nesse caminho, minha família e eu ficamos com 5 gatos. Hoje são três, pois dois morreram esse ano, e isso abalou demais a vida de todo mundo em casa. Meus gatos não vão pra rua, são castrados, comem ração premium e qualquer espirro já vão na veterinária especializada. Tem amor, carinho e são muito mimados. Mas mesmo assim, duas pequenas nos deixaram, uma picada por um bicho peçonhento e outra por uma doença que levou ela mesmo com todo o atendimento médico possível.


Amor não é temporário. Por um animalzinho que não faz nada pra nos magoar, então, acho que é ainda mais profundo. Por isso, temos que avaliar direitinho o que queremos e o que podemos fazer por aquele animal recém-acolhido, que até então só conheceu o asfalto como casa. 

A grande pergunta que temos que fazer é: o que é melhor pra ele? Ficar comigo ou ser doado? Porque de nada adianta adotar se você não pode dar todo amor, segurança e apoio do mundo, certo? e também não adianta doar só por doar, pra se livrar do problema, porque por causa de gente que só quer "se livrar do problema" é que existem tantos animais soltos e sofrendo na rua. Eu senti na pele o que uma escolha errada pode fazer. 

Em 2009, achei um gatinho cinzento numa praça, famélico e judiado. Deixei ele num hotelzinho, mas quando a conta bateu em R$ 200 apenas de hospedagem, decidi trazer pra casa. Já estava sendo lar temporário pra uma outra gatinha, e logo os filhotes ficaram amigos. Essa gatinha foi doada, e muito bem doada, para uma moça humilde mas muito cuidadosa. E o gatinho cinza ficou pra trás. Batizamos ele de Nanquim. 

Nanquim na época em que morava no hotelzinho. 

Logo ele brincava com a Pan, que revidava com tabefes, mas ele não ligava. Jogava futegato o dia todinho, era espoleta, carinhoso, enfim, um gatinho de colo. Na época, meus pais não gostavam muito de gatos, e eu não queria adotar o pequeno à revelia. No fim das contas, uma moça da faculdade mesmo, que parecia perfeita, apareceu. Quando fui entregar o lindo,  vi que era apartamento telado, tudo nos conformes. Sai de lá feliz pela adotante perfeita. 

Mas o que ela não me contou, é que seu pai não gostava de gatos. E me prometeu que ela mesma castraria, apesar da minha insistência de eu mesma buscá-lo dali dois meses para a cirurgia. O que de fato aconteceu: dias depois ela se mudou com a família pra uma casa térrea, e não castrou o pequeno nem o protegeu. Arrumou um cão de raça, daqueles que necessitam de atenção extrema, e que batia no gato. Nanquim fugiu e nunca mais foi visto. 

Meu coração foi lá no chão quando eu soube de tudo isso. O que eu berrei com essa menina, não tá escrito. Porque ela não me devolveu o gato? porque ela não agiu com responsabilidade? Porque pelo menos não me avisou todas essas mudanças, pra que eu mesma pudesse tomar uma atitude? Ele se perdeu pra sempre. 

É por isso que temos que pensar no que é melhor pra eles, porque mesmo com todo cuidado do mundo, as pessoas ainda são irresponsáveis. Porque se for pra doar de qualquer jeito, melhor continuar sob nossos cuidados. Mas se for pra ele ter um lar melhor, às vezes ser o gatinho mimado da casa, é melhor doar. 

Resgatei e doei outros, de lá pra cá. E outros gatinhos entraram na minha vida. Mas lembrar desses olhinhos brilhantes amarelos e desse corpinho cinza saltitante dói fundo, aqui dentro. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Três filmes sobre: biografias musicais

E não é que eu consegui dar continuidade a uma tag aqui no bloguinho? #TrêsFilmesSobre virou puro sucesso! vamos pra próxima?

Ando assistindo bastante biografias musicais. É muito legal e dá inclusive uma emoçãozinha quando você é fã de um determinado artista e transformam a história dele em música de uma forma bacana, pelo menos eu gosto (quando o filme é muito bom), porque geralmente as trilhas sonoras são caprichadas demais, de um jeito espantoso. Por isso separei três pra quem quiser se aventurar numa sessão musical de cinema nesse fim de semana. Pra assistir com os ouvidos. 

1. Cadillac Records (pt. Cadillac Records).

Um amigo meu punk dazantiga, apaixonado por blues, me recomendou muito esse filme lançado em 2008. E a história em si é muito bacana, assim como as influências musicais, mas que soa muito mais como homenagem do que como uma biografia super fiel. O cenário é a Chicago de 1947, onde o produtor musical Leonard Chess cria a Chess Records, após descobrir o talentoso cantor e guitarrista de blues Muddy Water. 

Sua gravadora torna-se referência no blues e jazz, em um momento em que as rádios tinham uma barreira gigantesca pra tocar música feita por negros. A marca de Chess é o cadillac que todo artista ganha. Um desfile de rostos, vozes e timbres conhecidos nos ganha: vemos o lendário Chuck Berry em começo de carreira. Etta James (impressionantemente interpretada pela cantora Beyoncé) é talvez a única mulher marcante na Chess Records. O filme fala de preconceito, da luta negra na música e principalmente do poder do blues. 

Porque assistir: o mundo Chess Records é sedutor. Quando os artistas estão ali, reunidos, dá pra imaginar como era efervescente a cena musical naqueles tempos. O ar vintage também dá um ar charmoso pra história. 




2. La vie en rose (pt. Piaf: Um hino ao amor).

Biografia visceral de 2007 da cantora francesa Édith Piaf (Marion Cotillard). Pra quem não conhece, Piaf é a intérprete das famosas canções "La Vie En Rose" e "Non, je ne regrette rien", descoberta cantando nas ruas de Paris. O filme narra a trajetória completa dela, desde a infância dura (marcada por uma cegueira misteriosa que se curou milagrosamente), até a alçada para a fama, a perda do grande amor (uma das cenas mais difíceis), da única filha, suas influências musicais e a vida nos palcos. Piaf morreu como viveu: em um turbilhão de sentimentos musicais, que se desenrola em emoções trágicas, viscerais, sofridas. 

Porque assistir: A atriz francesa Marion Cotillard embarcou tanto na personagem que a semelhança é impecável (trabalho também realizado pelo figurino e maquiagem do filme). Também por isso recebeu uma porção de indicações do BAFTA e do Oscar. E toda vez que a atriz interpreta Piaf cantando, as músicas são originais, cantadas pela própria Piaf. Em resumo: a interpretação caprichada de Marion é de chorar de emoção. 




3. Walk the Line (pt. Johnny e June). 

Johnny Cash, o "homem de preto", destoava de todos os cantores e artistas da época. Quando ele subia no palco, semblantes se convertiam no seu humor tempestuoso. Ele tinha problemas que iam de drogas a álcool até um relacionamento turbulento e mal resolvido com o próprio pai. 

Sua salvaguarda se tornou a cantora June Carter, com quem foi casado e com quem viveu até sua morte. Essa história é contada no filme de 2008 Walk The Line, com Reese Witherspoon no papel de June e Joaquim Phoenix no papel de Johnny. O filme fala ainda da infância de Johnny, sua trajetória paralela à de June, a vida no rock'n'roll e sua luta pessoal e musical. E uma curiosidade: os verdadeiros Johnny e June acompanharam toda a produção do filme, antes de morrerem, com poucos meses de diferença. 

Porque assistir: além de poder conhecer as parcerias musicais de Johnny e June, vemos de relance alguns artistas muito legais da época, como Jerry Lee Lewis e Elvis Presley. Joaquim Phoenix é outro que entrou de verdade no personagem. Sua interpretação do Man in Black é impressionante. 



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Processos de cicatrização

Eu relutei muito em escrever diretamente sobre isso aqui no blog, porque eu sou daquelas meninas turronas que escondem o choro e não gostam de mostrar fraqueza. E que simplesmente guardam muita coisa num cantinho escondido e meio inacessível. Mas também porque muita gente que eu desconheço acessa isso aqui. Também o medo de virar muito "mimimi". Só que eu criei esse blog não pra ter filtros, nem amarras. Foi pra exercitar a escrita livre e sem correntes, pra falar do meu cotidiano, de jornalismo, de gatos, de música, e do que eu quisesse. E se a pessoa se incomodar com meu mimimi, que não leia. Afinal, meu blog leva meu apelido no nome, minha essência, do começo ao fim. Se começar a filtrar tudo, meu intuito se perde. Já falei de sentimentos no blog nesse e nesse post. 

Esse mês me questionaram muitas vezes sobre o porque eu faço tanta questão de estar sozinha. Simplesmente não assimilam nem aceitam muito bem que sim, é uma opção, é um senso de preservação, é uma falta de vontade crônica, é desinteresse. Eu olho pras pessoas e não vejo nada. Não sinto nada. E não tenho vontade de envolvimentos ocos. Porque eu já passei por isso, como todo mundo, e não me trouxe nada de bom. Só ressaca moral e uma lembrança mais ou menos. E eu detesto o morno, o sem graça, o meia boca. 

No dia 20 de outubro acordei com uma sensação engraçada. "Faz 1 ano", pensei, com a cabeça pesada no travesseiro."Que estranho, comemorar aniversário de fim de relacionamento. Sou mesmo esquisita". 

Eu namorei por 8 anos esse mesmo garoto. No dia seguinte, mesmo depois de ter passado anos dormindo ao meu lado, ele já estava em outro relacionamento. 24 horas depois, simples assim. Hoje em dia, isso não importa muito, porque eu estava muito infeliz nesse relacionamento que não saía no lugar. Eu merecia alguma coisa melhor, e mesmo ficar sozinha seria melhor. Mas no dia que eu fiquei sabendo (porque vieram me contar), eu senti um misto de sentimentos confusos. Dor. Decepção. Tristeza. Raiva. Mas principalmente, inveja. 

Inveja, sim. Porque eu nunca tive nem terei esse desprendimento. Nunca terei essa capacidade oca de encher meu coração com qualquer um, rapidamente, depois de um baque tão grande. Demorei pra engatar a vida de solteira. Posso ficar besta, encantada, mas passa logo. Meu corpo, no término, não conseguia entender, assimilar, que era hora de mudar de ar, de rotina. 

Porque, pensei, minha cicatrização é tão lenta? Penso nisso hoje, ainda, e me sinto quebrada. Pois é, outubro chegou. 

Meses depois, outra paixão, nova. Outro ponto final. Tentei uma conduta diferente dessa vez, em diversos sentidos. Sabe quando você tá montando um cubo mágico e você fica tentando entender aquilo e mudar posições, lados, juntar pontas e peças? fazer diferente um processo semelhante? foi assim quando acabou. Eu fiquei tentando catar os pedaços e colar de volta, tentei ser racional. Mas quando eu juntava um, outro caía de novo, e eu olhava aqueles pedaços todos amontoados de forma meio patética, inerte. Uma ponta ficava solta, quando eu tentava remendar outra. "São muitos pedaços pra colar", eu disse pra um amigo, em uma conversa em uma das madrugadas sem sono. "É por isso que eu quero ficar sozinha". 

Tem momentos que esqueço desse, do outro, de todos os outros. E me concentro na minha vida. Mas hoje, quando penso em gostar de alguém de novo, de me dedicar, sentir afeto e amor, nossa, me vem um embrulho na boca do estômago, muito forte. Um nó na garganta, uma vertigem. As pontas de um ano atrás e as de meses atrás ainda tão aqui, a ferida ainda tá exposta. Que raiva eu sinto disso, dessa minha incapacidade de cicatrizar rápido. De não conseguir, sabe, simplesmente não ter medo?

É isso. Eu tenho medo. Sinto pânico de deixar outro entrar, de novo. Pode parecer que eu tô me cobrando sobre isso, de superar rápido. Mas não é isso. Eu não tô com pressa, mas às vezes essa sensação me aterroriza. Não a da solidão, que eu aprendi a apreciar, mas a da incapacidade de sentir de novo, de sentir forte, incontido, transbordando. E esse terror não me deixa mais sentir o gosto na ponta da língua, a ansiedade do descontrole. Esse medo me mantém presa no chão. Eu nunca mais voei. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Business trip to Bonito

Media Desk <3
Título em inglês nesse post só porque aqui tudo é bilingue, tá? haha. Mas é sério, as placas da cidade em que me encontro agora são todas em inglês e português. Explico:

Pra quem não sabe, Bonito é a maior cidade turística de Mato Grosso do Sul. Em função de suas muitas atrações naturais como cavernas, grutas, rios e balneários, a cidade basicamente vive disso. As ruas principais, centrais, são repletas de lojas de artesanato, locais que oferecem de tudo ao turista e restaurante que servem basicamente peixe e carnes exóticas (jacaré, por exemplo). 

Cheguei aqui na terça-feira, para trabalhar na assessoria de imprensa do XVII Congresso Nacional de Águas Subterrâneas (CABAS). Viemos de carro, eu e Renato, o que é muito bacana pela possibilidade de dar um rolê pela cidade, que eu conhecia pouco. Em função do trabalho, a gente não conseguiu fazer nenhum passeio mais elaborado como a Gruta do Lago Azul ou flutuação na Barra do Sucuri, mas conseguimos ir em alguns lugares bacanas. Deixo aqui a dica pra quem quiser se aventurar. 

A minha única ressalva é que Bonito não é nada barata. Tudo tem um custo grande, ainda mais em alta temporada, você paga a mais ou a menos, mas sempre, é alto. Por isso, o melhor é ir passear quando sobrar uma graninha. Eu mesma tô saindo sem um suvenir sequer, tamanha a pobreza em que me encontro (exceto uma garrafa de taboa pro meu amg @ThiagoMacarini).

1. Pra beber:
Vá, indubitavelmente, ao bar da Taboa, localizado na avenida principal da cidade. O bar é todo decorado com a assinatura dos milhares de turistas que por ali passaram. A gente bebeu uma vez de tarde e outra fez um happy hour com amigos jornalistas de passagem. Na ocasião, tinha música ao vivo rolando, e galera embarcando na bebida que nomeia o bar: a taboa é uma cachaça doce com especiarias, fabricada aqui mesmo em Bonito. 

Euzinha e o cardápio.

2. Pra comer:
Acabamos de voltar do restaurante Casa do João. Que lugar lindo! fiquei muito chateada por estar sem minha câmera fotográfica (ficou sem bateria no hotel). O restaurante tem cara de fazenda antiga, e atrás do espaço de jantar, funciona uma loja com muitos artigos interessantes, móveis de madeira bruta, artesanato local, até roupas e produtos de beleza. Tudo com um ar super vintage e antigo. O carro-chefe do restaurante é a traíra assada, um peixe muuuito gostoso, mas como a gente estava meio enjoado de peixe (que é a especialidade de quase todos os restaurantes da cidade), pedimos filé ao creme de gorgonzola com batatas douradas e eu sai rolaaando de tanto comer. Muito bom. 

Dsclp pela foto made in google! eu tonta tava sem máquina :(

3. Pra relaxar:
O Balneário Municipal de Bonito é muito bacana. Funciona assim: você paga R$ 15 pra ir até o rio, com toda a estrutura possível  Tudo muito limpo e bem cuidado. O rio tem uma base de pedra, você pode sentar e ficar ali na água, enquanto piraputangas te cercam! sim, os peixes (enormes) são tranquilões, e ficam no meio das pessoas. Cardumes e mais cardumes ao seu redor. Eles disponibilizam ração pra você alimentar a galera (peixes, não turistas, pfvr). É muito legal. Dá pra mergulhar também, entre os peixes. 

Eu fantasma no meio dos peixes.

Dica extra: O Congresso instalou a gente num hotel muito maneiro, o Pira Miúna. Sério, meio temático, a cara desse estilão de Bonito. Tem uma piscina muito legal, café da manhã impecável. Muito confortável e bacana, e perto de tudo na cidade. 

Fiquei no andar de cima, com vista pra essa piscina e esses telhados sustentáveis.

Espero que gostem! eu vou agora voltar lá pra capital, querendo mesmo é voltar pra conhecer as outras tantas coisas. 


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Teorema do azul e rosa

Hoje eu vim trabalhar de saia longa. Uma saia azul marinho, corte reto, como essa. E camisa de alfaiate, jeans. Ares de surpresa à minha volta. "Nossa, como você tá menina!".

Eu não me incomodo, e aceito o espanto das pessoas, porque eu tô mesmo sempre preferindo as cores escuras e as roupas não tão ~menininhas~, como eu falei nesse post aqui. E tem muitos itens oriundos do vestuário masculino entre minhas roupas, como colete, camisa, jaqueta militar, bota motorcycle. Eu tenho apenas 3 saias, duas que adquiri recentemente.

Ficamos sem internet hoje, fiquei conversando com o Dani. E surgiu o assunto da imposição de gêneros na sociedade em que vivemos: o "Isso é coisa de menina. Aquilo é coisa de menino".

Isso não existe mais na minha noção de mundo, mas já existiu. Lembro especificamente de um episódio particular. Quando eu entrei na terceira série (8 anos, acho), mudei da escola pública pra escola particular. Na pública eu tinha muitos amigos, era bem querida por professores e não tinha maiores problemas. Na particular a realidade era outra.

As meninas gostavam de me "isolar" porque eu tinha vindo de escola pública. Os meninos gostavam de provocar porque eu era deliberadamente deixada de lado pelas outras. Então minha vidinha era um inferno. Eu odiava aquela escola com todas as minhas forças, e pedi pra mudar várias vezes, o que aconteceu no final do ano letivo. Mas um certo dia, um garoto que também era zoado pelos outros (porque era "feio") resolveu pegar no meu pé. E me cutucar e puxar meu cabelo, me empurrar e me seguir pra todo lado me xingando. Aí uma hora não aguentei e revidei, comecei a chutar o garoto, e eis que ele correu pro banheiro dos meninos. 

Não hesitei nem um momento: entrei lá e terminei de descer o cacete nele, como diz minha avó. Sai toda orgulhosa (e feliz por não ter apanhado de volta). E contei pra um adulto o que tinha acontecido. 

Minha surpresa principal foi ter levado uma bronca nervosa, mas não por ter batido no garoto, me envolvido numa briga. E sim porque entrei no banheiro masculino. "Você não tinha que entrar lá! lugar de macho e não de menina! daqui a pouco você vai querer mijar em pé! não pode isso, não pode, é proibido!". 

Minha confusão foi imensa. Só entendi isso anos mais tarde. 

E aos 17 anos tive uma fase de só usar quase roupas masculinas. Eu vestia calças largas imensas, tênis. Sempre top de ginástica e nunca sutiã de bojo. Passei um ano sem comprar calcinha, eu simplesmente comprava cuecas box ou no máximo calcinhas shortinho. E camiseta de banda, e nunca maquiagem. Foi uma fase? acho que sim, mas não sei se passou porque simplesmente me interessei por outras roupas, ou se sofri alguma pressão velada. Mas eu me lembro claramente de, por exemplo, comprar jeans masculinos, porque os femininos da minha numeração não faziam eu me sentir bem. Sentia que eram apertados, sempre menores do que os masculinos. Eu realmente, nessa fase, não me sentia bem usando roupa feminina. Só os cabelos compridos que são os mesmos. 

Eu de costas, primeira banda, tocando guitarra, e a eterna calça enorme.

E tenho certeza que, todo mundo, uma vez na vida ao menos, foi etiquetado e colocado na prateleira de comportamento e modus operandi do gênero no qual nasceu. Meninos de azul. Meninas de rosa. Meninos podem transar cedo, meninas não. Meninos não choram. Meninas precisam se casar. Mulheres ganham menos. Homens precisam estuprar, porque senão, não são homens.

E sabe qual o grande problema disso? Os meninos que não choram, guardam aquilo pra sempre. As meninas que não podem transar cedo, são colocadas numa redoma de vidro "pra casar" e tem suas sexualidades domadas de forma humilhante. E assim, vida afora. 

É possível uma sociedade sem distinção de gêneros? igualitária e completamente equilibrada em seus conceitos de cultura, educação, moral, leis? Sei lá. Na atual circunstância, acho que não. Mas pra começar, se meninos e meninas pudessem usar qualquer cor que quisessem, sem sofrerem opressão por isso, acho que seria um bom começo. 

PS: Nesse contexto, eu recomento o filme "Tomboy" (foto do começo do post), que assisti no Festival Mix de Cinema. É sobre uma menina que, ao se vestir e se comportar como menino para novos amigos, vive descobertas e emoções como nunca. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Da amargura de todos nós

Um daqueles dias de calor, onde sobram afazeres e falta tempo. Passei duas horas à procura de uma roupa pro último casamento tradicional que minha família verá. Lembrei que precisava comer e me dirigi ao restaurante de comida chinesa do shopping. Enquanto eu me empenhava em escolher a berinjela empanada mais bonita, uma senhora parou ao meu lado, em frente à atendente. A moça, ar cansado, inspirava pesado e parecia meio doente, meio gripada. 

- Que comida é essa? - disse a senhora, em tom rude. 

- Temos batata agridoce, yakimeshi, carne com moyashi, no self-service e pratos prontos que... 

- Que porcaria de restaurante você serve, garota. - disse a senhora. - Porque não tem uma abobrinha refogada, um leguminho? uma carne assada? uma polenta? assim é difícil, garota. Assim não dá. Aposto que essa comida que você serve é ruim, é mal feita. Que cara de comida nojenta.

Enquanto eu servia, ela desfilou um discurso imenso. Do começo ao fim da fila, encheu o saco da atendente, que só olhava com um ar cansado e contrariado. No final, a velha virou as costas, e foi-se embora. Simples assim. Ela não ia comer nada, pensei, só foi ali pra encher o saco. Pra descontar sua frustração em cima de uma moça que provavelmente passou o dia todo em pé, no calor da cozinha. 

Quando fui pagar, dei um sorriso sem graça pra moça. Minha vontade era xingar aquela senhora pentelha sem noção, oferecer pra moça todo meu apoio e dizer que eu adorava a comida do lugar. Até ia fazer isso. Mas a moça já estava contaminada. Me atendeu tão rudemente quanto a velha, passou minha conta fazendo aquele barulhinho irritante de 'tss' com a boca, falou: "16,90, moça" com ligeira aspereza e praticamente me jogou os talheres no balcão. 

Peguei minha bandeja meio #chatiada e sentei pra comer. A falta de noção foi clara, da senhora, que não leu o letreiro COMIDA CHINESA, mas o pior de tudo, fiquei imaginando, foi o tom de amargura mal contida na voz dela. Porque educada eu sei que ela foi, e aposto que ela tem acesso à várias dicas de polidez e etiqueta. Mas lá estava ela gritando de graça com a moça, virando as costas e indo embora. Essa mesma amargura frustrada, que se aloja na gente, que consome nossa empatia, e nos faz virar monstros condescendentes e estranhamente inóspitos. Seres estranhos dentro dos nossos corpos. 

Fiquei imaginando quantas vezes por dia a gente é amargo. E quantas pessoas são assim o dia inteiro e já são assim há anos. Será que hoje eu tratei alguém mal? eu invejei isso ou aquilo, eu critiquei desnecessariamente alguém, eu coloquei essa pessoa pra baixo?

Há muito tempo que eu acho que chamar outras mulheres de puta por causa da roupa que veste é um tipo de amargura. Que tratar a vendedora da loja, a faxineira, o zelador mal, é um tipo de amargura também. Que olhar de forma superior uma pessoa que não acredita em religiões em geral, com argumentos de "Você vai pro inferno por não acreditar no meu deus" é ser meio amargurado. Que no âmago de todas essas críticas nocivas e preconceituosas, que ferem bem o que a gente é, está uma grande e próspera casca de amargura. 

As vezes a gente faz isso sem perceber. E acho que o grande desafio é esse. Pegar toda essa frustração e trocar pelo sentir o outro, estar na pele do outro. Acho que a gente se aproveitaria menos da fraqueza das pessoas. E nos tornaríamos menos fracos, também.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Mil vezes gatos

Ando numa correria beinloca ultimamente. Logo, fiquei sem conseguir escrever os posts que planejei :/. Porém, não faz mal, mesmo assim eu persisto!

Aproveito então pra mostrar rapidinho (entre uma pauta e outra, loucura de dois empregos: você trabalha na sua folga, e eu ainda resolvi voltar a ter banda de rock, coisa que me faz muito muito feliz) uma coisa que sempre gostei: fotografar gatos. Faz um tempo que coleciono algumas imagens, desde mais ou menos 2008 (quando adotei a Pan). Meus gatos, de amigas e amigos, da chácara, da rua. 

Não é fácil fotografar animais, mas quando você consegue, geralmente fica muito bonito. Gatos então (belos e majestosos por natureza) nem se fala. Há um tempo, criei no meu flickr uma galeria com essa temática (só clicar na imagem). 

Volto logo, prometo!

PS: Olha quem apareci na capa de uma revista daqui de Campo Grande com um gatinho (o Sinhô, que mora na nossa chacrinha e é o mais bonzinho) hahaha. Vergonha master, mas deu pra defender  bem na matéria porque é importante ser responsável por seu animalzinho e como cuidar dele (e como eles cuidam da gente). 


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Vivendo e aprendendo (no death metal)


O que eu aprendi no último sábado, quando cobri o show do Krisiun (RS) e de outras bandas de metal, em um bar de Campo Grande:

- Cuidado com seu equipamento de fotografia quando resolver se aproximar pra registrar os headbangers enlouquecidos. 
- O som é animal e você terá vontade de bater cabeça, então carregue o essencial.
- Fique amiga do técnico de som pra ele te deixar subir no palco e tirar fotos próximas. 
- Ingerir álcool deixa tudo mais divertido. 
- Seus amigos estarão lá, mesmo que jurem que não vão. 

E como diria o vocalista do Krisiun no ápice do show: "Metal doa a quem doer PORRA". Ou seja, foi lindo. Aguardem que vai sair no Rock do Mato. :)



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Letargic

Para minha nega

A nossa vida, nossas juras de paixão e carinho e todas as lágrimas trocadas em noites de amor puro, ou de momentos viscerais de entrega, nada disso dura um virar de página. Não se engane, menina. Não seja ingênua. Não seja boba. 

Ali estava você, chorando desalentada em qualquer sarjeta, e meu deus, como dói! como massacra, o quão abominante é essa sensação de dor, de que estão arrancando um braço seu, que estão te arrastando no asfalto quente. Seu corpo e sua essência. Não importa se foram anos a fio. Não importa se foram os melhores dias da sua vida. Em determinado instante, você agoniza. 

"Como ele(a) pode fazer isso comigo?". Era sua pergunta pro espelho embaçado de vapor, pro travesseiro já cansado do seu rosto afundado, pro seu âmago doente, enfraquecido, subjugado. 

O que eu sei é, que se você não consegue esquecer assim, num piscar de olhos, bem vindo ao Clube da Letargia. Aqui, todos os membros agonizam e reconstroem, peça por peça, seu labirinto de pedaços carbonizados. São as partes do que a gente carrega aqui dentro. A gente esconde do olho mágico, da câmera do computador e das fotografias, as lágrimas. A gente ergue a cabeça. Sente vergonha dos momentos de fraqueza. Se obriga a ser obcecado pela mudança, por melhorar e se reerguer. 

Aqui, não importa se no dia seguinte a pessoa que você amava já estava lá, feliz da vida, com outra. Nesse mundo, eles não existem. São menos que nada. São lendas, surreais. Falta nas pessoas daqui a capacidade de esquecer rápido, de se conformar com essa velocidade desmedidamente avançada. 

É por isso que é doloroso. É incomum. Não é pra qualquer corpo vazio, existência pífia. É pra quem é o mais frágil ser que se corrói por dentro. É pra quem precisa aprender a viver dentro da morte sob dor profunda. Quem precisa acordar todos os dias e sentir o medo se esvaindo, aos poucos.

E cada vez mais você aprende a fechar as portas. A olhar as pessoas sem realmente vê-las. A se vestir de manhã, agradecer pela noite e dar adeus. A não sentir mais vergonha. A não ter mais, de fato, medo. Você se torna oco à primeira vista. Mas não é bem isso: é que sua verdadeira essência cheia de buracos está tão guardada, tão blindada, que você a prendeu sob sete palmos e nunca mais ninguém tocará nela. Você não vai deixar. E os dias de sofrimento serão só uma marca detestável, indistinguível de todas as outras. 

Aí em algum momento, você irá deixar a blindagem ir. Mas uma nova casca já terá se erguido sobre esse precioso tesouro que você guardou. E isso, somente isso, vai te bastar na sua jornada

Só me prometa que nós não teremos pressa. Eu não tenho. 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

As frágeis de Westeros

Conheci a saga As Crônicas de Gelo e Fogo por meio da série de TV, e me apaixonei imediatamente. Ansiosa e afogueada que sou, fui no dia seguinte à livraria atrás dos livros disponíveis, encomendando na pré-venda o indisponível e já olhando tudo quanto é site a respeito.

Essa semana comprei o quinto da saga que começa com Game of Thrones, menos aloka da livraria, porque tive uma certa dificuldade de achar. E também porque achei Festim dos Corvos (o quarto livro) incrivelmente lento.

Meninalyra em relacionamento sério com seu livro.

A saga de George R. R. Martin é extremamente violenta, ou assim eu classifico. E pra mim se aproxima muito mais de uma certa ~realidade~ medieval (excluindo-se alguns elementos fantásticos que dão o 'tchan' a mais). E são livros masculinos, onde muitos dos personagens são homens (quase todos). Porém, me chama atenção a incrível fragilidade das mulheres. E também sua incrível força.

Em Westeros, vigora a lei do fogo e da espada. Entre brigas de reis, banhos de sangue e batalhas, estão as mulheres. E elas são o fio condutor da mudança, do amor, e da coragem, mas também do ódio e da dor. Elas que sentem tudo, enquanto os homens tragam a terra em guerras vermelhas. E tem mulher pra todo tipo de perfil: tem a rainha Cersei Lannister, intolerante, ambiciosa, fria, mas que defende seus filhos como uma leoa. Daenerys Tangaryan, filha de reis e exilada, obrigada a casar com um guerreiro em troca de um exército, e que se torna a mãe dos dragões. Arya Stark, filha dos lobos, que aprende desde muito criança a sobreviver no mundo asqueroso da morte. 

Recomendo ler todos, e saborear cada trama que se desenrola no feminino da história. No poderoso e frágil. 





PS: Alerta de spoiler
A cena em que Daenerys, em Tormenta de Espadas, lidera um exército de Imaculados, me tirou o fòlego. Bem como o trecho em que Arya Stark foge das ruínas de Harenhall, aos 12 anos, matando homens em seu caminho com a espada fina e afiada, Agulha. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Palco




"Meninalyra, como é cantar num palco?"

"É como aprender a andar de bicicleta, e um dia se ver descendo uma ladeira íngreme e perigosa. É como fazer amor e descobrir, sensorialmente, todos os orgasmos possíveis". 

"Você não sente falta?"

"Todos os dias". 

A primeira vez que eu cheguei perto de uma bateria, meu coração disparou. Eu tinha 12 anos. Estava numa festa com a família toda, e apontei pra banda de rock que tocava, e eu só conseguia enxergar o baterista, sentado numa Pearl verde-limão toda cromada. Meu ex-cunhado me disse que ia me ensinar a tocar.

Na escola, eu não tirava Nirvana do som. Oitava série, as primeiras descobertas do rock. Aos 13 e depois 14, comecei a perceber que eu era muito impaciente e diferente daquelas meninas. Não me agradava ouvir o que elas ouviam. Perdi as antigas amigas e passei a andar com a menina "estranha" da sala. Ela me mostrou outras bandas e disse que iria comprar um baixo. "Eu queria ter uma banda", eu falei. "Mas não sei tocar nada". "Você irá cantar", ela disse.

Outra festa, só pessoas mais velhas que eu, a única criança. O ex-cunhado e sua banda de hardcore. No meio do showzinho, numa casa antiga, pra algumas pessoas, mãos me empurraram até o palco, enquanto eu olhava horrorizada pra ele, que me estendia um microfone. Eu tremia, e ele disse "Eu já te vi cantando essa lá na sua casa, sei que você sabe a letra, canta aí!". Zombie, do Cramberries. Eu cantei tão timidamente que não lembro se alguém ouviu, e nossa, como doía o nervosismo no fundo do estômago, e eu encarava os rostos à minha frente e me perdia no inglês, e tentava fazer agudos que não saíam. Medo de acharem ruim, de ter a auto estima já frágil mais sabotada. Que menina que eu era. Criança.

Quando dei por mim, estava pedindo um violão de aniversário de 15 anos. Não uma festa, nem um vestido. Nem joia, nem banho de loja. Não. Eu queria um violão simples, um Di Giorgio,  porque queria fazer transbordar aqueles sons que eu ouvia dentro da cabeça. Peguei um caderninho e comecei a escrever, a dedilhar. 

O primeiro show da primeira banda formada foi na escola. Me juntei com alguns amigos tão inexperientes quanto eu. Ipnozy, chamava-se. Em seguida, foi a Salem, que eu formei com duas amigas e um amigo. Nós andávamos de preto, tocando Kittie, Slayer e Pantera. Nessa época eu era guitarra base também, adorava cantar e tocar, me sentia poderosa. Andava de shorts e coturno, olhos pretos de lápis, cabelo colorido, e usava umas luvas na mão que eu mesma fazia, com renda. Eu era quase uma caricatura. Eu dizia pro mundo: "eu posso sobreviver".

Amadureci. Usura, a banda onde dei vazão às minhas próprias criações, compondo e aprendendo o quanto a música te proporciona transpor barreiras. Fizemos shows em muitos lugares. Tocando, os quatro eram um só. Veio outro projeto, menor, depois. E a Bullet Cluster, minha última banda.

Eu tenho um milhão de histórias sobre isso: de lá pra cá foram nove anos, em que eu subi no palco e experimentei a sensação de ser um todo, de ser a atenção, julgada, de captar emoções. De ter uma verdadeira ligação telepática por meio da música, de olhar para o baterista e ele saber exatamente o que eu tava pensando e o que queria dele, que ele fizesse duas marcações no chimbal, que ele captasse a minha essência e alinhasse com seus próprios pensamentos, e aí, sem esperarmos mas ao mesmo tempo querendo, o baixo se transpondo, sonoro. A guitarra finalizando a orquestra. E eu vomitava palavras, gritava, chorava, sussurrava.

Quantos olhares eu não traguei, do alto do palco, até a platéia. Meninas suspirando. Homens impacientes. Pessoas incrédulas sobre o que uma menina de cabelo longo e jaqueta de couro, estaria fazendo ali, no meio de todos aqueles caras. Dos olhares de espanto no momento em que a voz gutural saía. Ou que eu afinada, entoava refrões desconhecidos. "Não sabia que você tinha essa desenvoltura, menina" Tardes de ensaio em casa, tocando no escuro com a iluminação de velas. Começar a cantarolar sozinha e terminar o dia com uma música formatada, porque eles seguiam minha deixa e a gente iniciava sessões intermináveis de sons e ruídos.

Eu era tão menina. Mas no palco, eu era sempre maior.

E o frio na barriga, e os sons vibrando nas caixas. E o bumbo que batia rápido, em sincronia pulsante com o que eu levo aqui dentro do peito. E fora, e nas pessoas, e dentro de mim e de todas elas. A gente era o palco.


domingo, 9 de setembro de 2012

A noite é rotineira

"Porque estás tão misantropa, Meninalyra?"

O cenário que eu chamo carinhosamente de 'minha vida' não anda propício. Meu corpo se separa da minha consciência e reclama de ter que dormir tarde, passar muito tempo na rua. Parei de fumar e dei um tempo na cachaça. Eu era menina faceira que amanhecia na rua e agora me sinto uma velha de 100 anos. 

Me obriguei então a enfrentar o asfalto, o humor pesado como anda sempre nesses tempos meio negros, meio complicados. Coloquei um bom traje de guerra e pintei no rosto a camuflagem perfeita, que diz hey, veja como eu não ligo pra nada, só pra minha cerveja de hoje e tal! e ousei colocar os pés fora do meu bunker de segurança, minha própria casca. 

No bar, resisto bravamente à vontade de fumar. I quit, baby. Todos fumam ao meu redor. Tento concentrar minha atenção numa rotina que eu vejo desde sempre. Começo da noite é travado, é sempre macilento e odioso. Não há álcool o suficiente nas pessoas. Ouço um "vamos beber?". Meu copo está preparado pro holocausto. 

Encosto no bar e esvazio copos. Fumo por osmose, enquanto algum random guy sopra fumaça do meu lado e puxa assunto, que eu correspondo por cortesia. Ouço conversas que não fazem sentido, e outras que fazem. Ali, parada, com um copo entre as mãos, parece que estou naqueles filmes onde o personagem fica parado e todo mundo vive em velocidade maior ao redor dele, mas ele não. Ele permanece em slow motion. 

Passa das três quando saio do estupor e começo a engajar conversas com desconhecidos. Já estou meio alcoolizada. É sempre engraçado. É sempre a mesma coisa, a mesma rotina. 

Só penso, no final: "Que puta ressaca terei amanhã". Acordo com bombas dentro do crânio. 


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Trabalhar pra viver (e viver pra trabalhar)

Minha rotina profissional melhorou muito, depois que decidi uma série de coisas sobre o trabalho. Mas até aqui, foi um caminho meio dolorido. 

Quando eu fazia faculdade, o trabalho (no caso estágio) era apenas uma das coisas que me realizava. Quando me formei, passou a ser a principal, e eu passei a me agarrar mais a ele do que a todo o resto em função do desejo de ter uma carreira rentável. Porém, esse ano eu percebi que, dentro desse turbilhão, eu estava exausta. Não rendia, não pensava, era automático. E isso refletiu no meu desempenho. Além disso, percebi que eu cedia demais, e por isso não estava sendo valorizada; que eu me desesperava por muito pouco dentro do departamento, que não estava dando conta de burlar alguns obstáculos. 

Foi um baque quando notei que aquilo para o que eu estava dedicando 10, 12, 14 horas por dia, não estava dando em nada. Senti como se tivesse perdido tudo (/dramaqueen). 

Então pensei: "Se nada muda, eu mudo". Busquei outras oportunidades, uma melhor remuneração. Reuni textos, gastei tempo pensando nas minhas falhas e em como melhorá-las. Assim, desfilando semanas, hoje estou finalmente num bom momento. 

Ainda trabalho mais de dez horas por dia, pois além de tudo consegui um frila: agora (e nas horas vagas), sou repórter convidada em uma revista mensal, e trabalho basicamente no meu tempo livre: durante a noite e horário de almoço. Também refiz meus modelos de trabalho. Em resumo, parei e respirei. Porque se a gente não para um pouco, revê prioridades e decide o que precisa ser feito, a gente adoece. E aí nenhuma remuneração devolve isso.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uma família de meninas


Somos em quatro, em casa. Quatro mulheres, quatro meninas. Quatro vezes mais esmalte e absorvente. Mãe e suas três patinhas. Eu sou a patinha do meio. 

E somos em cinco netas. Duas mães/tias/madrinha. Uma avó. 

D. Nely é uma senhora de respeito, mas não qualquer uma. Não, o respeito da minha avó é sólido, incorruptível. Ela sorri satisfeita ao ver a família reunida, e todo mundo bem, porque as coisas que ela passou na vida não foram nada fáceis, como a da maioria das mulheres que eu conheço. Seu pai, meu bisavô, costumava apostar tudo numa mesa de jogo, e eventualmente perdia tudo. Meu avô, seu marido, não é lembrado com carinho. Seu Flor, era assim que ele era chamado. 

Minha mãe tem o dedo mindinho entortado por causa do meu avô, pelo dia em que ele se irritou com alguma coisa e tentou bater nela com uma viga de ferro. D. Nely entrou no meio, com toda a fibra que lhe era oprimida no espírito, e impediu que uma mocinha de 12 anos fosse, sei lá, assassinada pelo pai num momento de fúria injustificada. Ninguém fala sobre isso. 

As mulheres na minha família de italianos são o elo. A massa concreta que liga todos os círculos, separados por diferentes cidades do Paraná. Que carregam as crises e gerenciam os festejos de Natal. Que partilham dos ensinamentos, que abrem e fecham o coração. E em quem as marcas ficam pra sempre. 

Minha avó disse pra minha irmã, em um momento qualquer, que não queria que nenhuma de nós casasse. Não, que uma família de mulheres é suficiente. Que nós temos que pensar em nós mesmas, e viver tudo aquilo que queremos. Estudar, viajar o mundo, ela disse. Minha mãe pensa assim, minha madrinha pensa assim. Nesse nosso mundo que ainda é tão cheio de raízes que dizem o oposto, elas fizeram da gente pássaros, mas não pra ficarem engaiolados, como elas foram. Em casamentos, em relacionamentos, em empregos, aos filhos, aos maridos. 

Madrinha, a segunda mãe de todas nós, voou, em algum momento. Deixou os grilhões de um relacionamento frustrado. Saiu de casa com a roupa do corpo e a filha pequena debaixo da asa. Todo enxoval caro do casamento, os lençóis e as baixelas, ela largou pra trás, sem nem olhar duas vezes. 

Ela faria uma fogueira com essas coisas se pudesse, eu tenho certeza. Tudo pra que hoje, nós, os pássaros, não precisemos lutar essas batalhas. Nós temos as nossas, algumas diferentes. Mas eu me sinto muito orgulhosa de ser dessa família de Valquírias. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Espelhos modificados

Foto: Alexis Prappas.

Quem acompanha meu twitter (que é bloqueado por inúmeros motivos gente, dsclp, mas você pode dar follow request se achar que deve) sabe que recentemente eu trabalhei como assessora de imprensa de um concurso de miss

Antes de mais nada: sim, eu fiz cara feia, quando o gerente da redação (a.k.a Renato, o @filhodapauta) me perguntou o que eu achava de concursos de beleza. Achei que ele estava tirando a maior onda com a minha cara, e eu simplesmente disse o que eu achava: perda de tempo. Falta de carpir lote. Futilidade. 

E, passados dois meses, eu simplesmente agradeço ao universo por ter acesso a tantos mundos diferentes do meu, e assim, aprender gradativamente a julgá-los com menos severidade, com menos olhares de reprovação e de asco espontâneo. Dessa forma, eu reitero aos poucos a minha própria opinião, depois de viver aquilo. Sem deixar minha visão pessoal contaminar qualquer observação que tenho acerca. Só digo uma coisa: mais do que ser miss ou não, não é fácil ser mulher. Daqui a pouco eu explico. 

Se há poucos dias eu estava imersa em um festival de cinema LGBT, semana passada quase enlouqueci enquanto pensava em pautas sobre make up, hair stylist, vestidos e outros assuntos relacionados. Nada disso faz parte do meu mundo, de menina gorducha sem paciência pra beleza, mas eu fiz, mesmo que por pouco tempo, parte do mundo deles, como jornalista, assessora e observadora. 

O Miss Mato Grosso do Sul elegeu no dia 9 de agosto a moça que representará meu estado no Miss Brasil, e quem sabe, no Miss Universo. Mas antes disso, nós começamos o trabalho, primeiro, de divulgar que as seletivas para o concurso estavam abertas. Nessa etapa participei pouco, em função de outros trabalhos. Peguei o negócio muito mais quando estava próximo do evento. 

Meu primeiro grande choque foi conhecer a Miss Brasil, Priscila Machado, convidada para apresentar o evento. A moça é mesmo incrivelmente linda, e tudo nela é extremamente impecável. Então, durante uma entrevista que acompanhei, ela revelou que quase tudo em seu corpo passou por alguma intervenção cirúrgica: rinoplastia, lipoaspiração, silicone. Meu primeiro pensamento: "Cara, como assim?". Meu segundo pensamento: "Que droga de mundo". Sim, que porcaria de mundo onde a beleza ideal é alcançada, apenas por meio de bisturis e intervenções. 

No extremo oposto do mesmo concurso estavam as garotas daqui, as concorrentes daqui. Algumas já modelavam há alguns anos, outras vieram mesmo do interior e fizeram campanha entre parentes e amigos para arrecadar o dinheiro da inscrição. Do outro lado do ringue, elas não tinham modificações corporais, apenas sonhos de serem as mais belas. Muitas tímidas, de fala típica. Algumas mais tranquilas, outras com cara e perfil de terem nascido em berço de ouro. 

O segundo choque que me veio nesse turbilhão foi notar a expressão das moças durante o concurso, de alegria sustentada na cara pra agradar, tentativa de charme e personificação de beleza ideal. E olhar pra elas, e perceber que naquele momento, havia mais de 400 pessoas julgando todas elas, ao mesmo tempo. Elas, sujeitas a isso por um sonho e por vontade própria. Ao meu lado, comentários de "aquela ali é gorda demais para ser miss", "olha aquele nariz", e coisas do tipo. Meus julgamentos particulares acabaram aí. Aprendi a não julgar dessa forma tão... desumana, porque não consigo encontrar outra palavra pra definir os comentários que ouvi entre os corredores. 

Na minha cabeça, alguma coisa muito forte me dizia que elas eram algum instrumento social de objetificação, e que homem não passa por isso nem é julgado com tanta minúcia a ponto de ter de modificar seu corpo inteiro à base de faca (ou será que é e eu tô errada?). E que esse sonho todo, é apenas um prelúdio pra uma carreira onde vão mandar você se portar, se vestir, e ser do jeito que manda a moda, a tendência, o ideal inalcançável imposto pela indústria. E esse sonho é muito, muito triste. Mas eu penso isso, individualmente. Elas não são diminuídas pelo meu intelecto, nem eu pela beleza delas, ou pela forma que cada um usa o seu pra viver. A gente é igual, de qualquer forma. A gente é mulher. 

O que tirei desse trabalho, foi a seguinte frase, que ouvi da organizadora do evento, nossa cliente da assessoria de fato: "Tem que ter estômago pra enfrentar um negócio desse. E a menina que ganhar, mais ainda. E se ela não for inteligente nem tiver a cabeça boa, esse mundo acaba com ela". 

Acaba. Até seu reflexo no espelho muda. Um dia você deve acordar em meio ao glamour e não se reconhecer mais. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Gosto mas não assumo: 'E-e-e stop telephone me-e-e-e"



O Volta Mundo Blogueiro fez um desafio de blogagem coletiva. Que tal se a gente postar algum gosto pessoal do qual sente certa vergonha?

Você gosta de Lady Gaga? pois é, eu não, ou melhor, é isso que eu digo pras pessoas. Eu sou a menina que gosta de Slayer. Que teve várias bandas. Então gostar de Lady Gaga pra mim é uma certa queimação de filme. Mas bom, não é bem de Lady Gaga que eu gosto. É de um único clipe, que me deixou toda impressionada quando assisti pela primeira vez, acho que em 2009. 




Meu deus, pensei, enquanto escondia da vista de todos a descoberta, do novo clipe de Lady Gaga & Beyoncé, "Telephone". Eu fazia estágio no MP na época, e comecei a ouvir a música no repeat, direto do clipe, que conta com quase 10 minutos de duração. Na história, segundo os entendidos, Gaga vai pra prisão depois de assassinar o namorado no clipe anterior (Paparazzi, que eu acho uma chatice sem precedentes), sai da cadeia, e ajuda a Honey B a matar o namorado jackass

A pussy weagon, de Kill Bill, estava lá. E o que era aquele beijo na prisão, Stefanni Germanota? E o ritual de assassinato na lanchonete? e as dancinhas com galera morta? E o visu meio Betty Page da Beyoncé? e aqueles dançarinos fazendo coreografias estranhas? Final meio Thelma & Louise: "We did it, Honey B. Now let's go far far away from here". ❤❤❤

Bom, esse foi o segredo que escondi a sete chaves, até agora. Eu adorei esse clipe, assisti tantas e tantas vezes e gosto até hoje! Não condiz com a minha personalidade de pessoa-chata-que-odeia-pop, mas vai, é sensacional. 

Enjoy. (Tenho até medo do próximo desafio do VMB. Fato). 


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Crescer, essa maldição


Apesar de não ter dado sinal aparente no site oficial, semanas atrás o SWU teve divulgada na internet, algumas das atrações 2012 do festival. 

Eu fui em 2010, na edição que aconteceu em Itu, por causa do Queens of the Stone Age e do Pixies. Foi uma viagem muito boa, os shows lindos, a infra-estrutura nem tanto. E também estive no Lollapalooza esse ano, para assistir ao Foo Fighters e o Cage the Elephant

Quando anunciaram, no SWU, Mastodon e Slayer, meu coração até palpitou. Banda da adolescência, aqueles lindos (!) do Slayer. Mastodon é uma paixão mais recente. Os discos deles me deixaram impressionada. Na hora eu comecei a checar alguma coisa relacionada, feliz da vida pela notícia de que seria no Anhembi, em São Paulo (essa mesma cidade de zilhões de prédios aí, da foto que foi tirada por mim no Jóquei), logo, muito mais fácil de ir (em termos de transporte, acomodação, opções. O SWU que fui foi um sofrimento em todos os setores). 

Eu tenho 23 anos, um trabalho regular, sou recém formada e não tenho filhos. As únicas pessoas a quem me "reporto" de alguma forma são meus pais, e não porque eles exigem, mas porque eu me sinto na obrigação, em função de ainda partilhar o mesmo teto que eles. Mesmo assim, me vejo diante de questões importantes. 

Atualmente, pra viver sozinha, eu teria de viver mal. Teria que dividir. A ideia de partilhar a vida com outra pessoa ruiu há quase um ano. Minha carreira está bem no comecinho e eu não tenho, ainda, condições de viver de forma independente sem passar muitos perrengues e sem depender de ajuda materna. 

Porém, a ausência de responsabilidades sérias (contas de água e luz, o leite das quiança etc) pode me favorecer viajar pra Buenos Aires e pra Londres, e ir em todos os festivais de música que eu imaginar, certo?

Bom, mas no ponto atual, é preciso decidir. Eu posso dar um salto no final do ano, ou alguns meses adiante, e começar a preparar pro mestrado, o que me dará vantagens na minha carreira, me proporcionará sair de casa, mas também haverá a questão financeira, o que aqui quer dizer: economia, muita economia. Ou posso continuar no que estou agora por mais alguns anos, apenas pleiteando um emprego bom a longo prazo, e assim viajar e fazer as coisas que quero. Mas continuar morando com os pais, o que implica uma série de outras questões. 

De um lado: "Aproveite a vida agora, que você pode, e pense na carreira depois". De outro: "Foque na sua vida profissional agora, ganhe dinheiro, e depois, com estabilidade, desfrute de festivais e viagens".

Mas a questão permanece: Qual é o momento de viajar e aproveitar a vida? E qual o momento de focar na carreira e sair de casa? Existe momento certo pra qualquer uma das duas coisas?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Florbela fala comigo

Há algum tempo tenho estado quieta no meu canto. Sem sair por aí, sem me estressar. Contida na casquinha.

O ócio me pega pelo pé e traz junto o mau humor, então como uma forma de estratégia voltei a ler várias coisas pelas quais sou apaixonada faz tempo, como Sandman. Tenho dedicado tempo à redescoberta.

Aos 16 anos, eu gostava muito das poesias de Florbela Espanca, pela visceralidade, o tom de urgência, esse pulsar de palavras. Eu sempre fui urgente, assim, também. Pressa, ansiedade, pluralidade de sentimentos e reações. 

A portuguesa que morreu cedo, aos 36 anos, teve uma vida intensa e conturbada. Assim são os poemas dela: quando falam de amor, é forte, delirante, intenso, cheio de paixão. E quando falam de perda, de tristeza, é na mesma intensidade dolorosa e causticante.

Se é pra ser, que seja assim, cheio de vida. Que haja dor, sentimentos, furor. Que haja tudo.

"...Digo os anseios, os sonhos, os desejos 
Donde a tua alma, tonta de vitória, 
Levanta ao céu a torre dos meus beijos! 

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço, 
Sobre os brocados fúlgidos da glória, 
São astros que me tombam do regaço!". 

PS: Me lembro sempre da minha nega Re, quando lembro de Florbela.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Hoje, amanhã e depois


Eu ando míope. Ando não, na verdade sempre fui. Usei óculos em 2005, no segundo ano do ensino médio, porque sentava no fundo da sala. Quando meu óculos quebrou, não comprei outro, e logo abandonei por causa do grau tão baixo. 

Eu ando míope, mas não só meus olhos não enxergam as placas de sinalização na rua com dificuldade de reconhecer letras muito pequenas. Também não consigo focalizar nem enxergar nada no que diz respeito ao meu futuro. 

Todo mundo passa por isso, em algum momento da vida. Devo dizer que é a primeira vez pra mim. Do ensino médio à faculdade, e depois ao mercado, foi um caminho reto. Nunca tive dúvidas em relação a escrever - ao jornalismo tudo bem, mas eu teria feito qualquer outro curso que me desse o que eu buscava, que era aprimorar uma coisa que eu já amava fazer, e arrumar um jeito de fazer dinheiro com isso. E nesse momento, eu contava com uma 'pessoa', em quem depositei sentimentos, sonhos, vontades, por longos oito anos. 

E eu estava lá, pensando que meus objetivos iam se cumprir da maneira que eu esperava e eu ia ter tudo que eu precisava nas mãos. Ledo engano. Começou com o fim do relacionamento, por esse exato motivo: o futuro, o crescimento, nunca chegava, pelo menos por parte dele. Meu esforço estava sendo inócuo. É claro que ruiu. 

Uma vez passada a sensação de pânico, e acostumada às sensações dessa solidão que eu não havia experimentado por tanto tempo, pensei: "eu ainda posso seguir sozinha". Mas hoje, nove meses depois, eu me vejo sem certeza nenhuma. Dead end, friend. 

A gente tem as coisas na mão em um momento, e no outro não tem mais. Tem sido assim. Todo o amor que deposito sobre as coisas e as pessoas não tem vingado, não tem florescido. Como plantar uma semente e ela nunca nascer. Demorou oito anos pra alguma coisa ser arrancada assim de mim, então quando acontece tão rápido, como tem sido, eu não sei lidar. Não sei reagir. Não sei ser madura o tempo todo, não sei pensar em plano B. Eu preciso de tempo, e todo mundo me dá tempo. Mas a cobrança continua, dentro de mim mesma. 

Esses dias me perguntaram: "O que você quer pro seu futuro?" e eu respondi um sonoro "não sei". Viajar? morar sozinha? adotar mais um gato? ter um emprego que possa me proporcionar prazer e crescimento? esses sonhos bastavam pra mim até ontem. Agora eles parecem longe de mim, porque eu não consigo atravessar os obstáculos de agora. Eu não consigo enxergar a estrada. O caminho do hoje, amanhã e depois. Até o futuro.