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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Refúgio ou: navegar é preciso

Não vou nem negar que sou dessas que viajam por qualquer motivo - e inclusive por um motivo específico, que eu chamo carinhosamente de "esquecer das merdas". 

Começou em 2009, na primeira grande decepção. Virou um hábito. E cada vez mais eu tenho mais motivos pra viajar, faço mais amigos, conheço mais coisas. E assim as merdas realmente ficam pra trás, não é maravilhoso isso? A estrada passa por mim, e eu passo por ela. É uma espécie de calmante duradouro, olhar pelo vidro do ônibus enquanto ouço mil músicas, e saber que, no fim do arco-íris da viagem vai ter uma pessoa (ou mais) querida me esperando na rodô, que vai dizer "e aí, vamos beber?".

Não é fácil viver, a gente sabe bem disso. E o que funciona pra uma pessoa pode muito bem não funcionar pra outra. Já fui mil vezes criticada, com discursos de "você foge do problema". Fujo? não, eu volto, e resolvo. E volto de cabeça fresca, disposta a lidar com tudo de frente. E já ficou mais que decidido, que em 2012, não vou aguentar merdas de ninguém. Não sou obrigada.

Vou arrumar uma mala vintage e colar selo de todos os lugares que vou. Assim me refugio no que é bom e precioso.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ultimamentes

Ultimamente número 1: tenho medido minha confusão mental pela confusão dentro do meu quarto. Há alguns dias havia caos por toda parte, roupa acumulada por todo lado, livros um tanto empoeirados, cama bagunçada, lençol cheio de amassados. Eu entrava naquele antro quarto e a zona fazia total sentido, por incrível que pareça. As pessoas entravam e ficavam chocadas com tamanha bagunça, e eu não entendia o motivo. Não conscientemente.

Até Panzinha se perdeu na anarquia de livro, roupa, copos com conteúdo suspeito, tralhas infinitas.

Ontem resolvi arrumar, porque finalmente parou de fazer sentido. ("O que? de onde surgiu essa bagunça?", pensei com meus botões. "Brotou do nada, que coisa, não?!"). E resolvi inclusive tirar os ossos debaixo da cama, e simplesmente deixá-los ir, como todo o resto.

Não ficou bonito, não ficou totalmente asseado, grande parte da poeira estava inalcançável (adendo: lembrar de passar aspirador). Mas peguei as lembranças e coloquei categoricamente em um saco de lixo. Porque eu sou dessas, eu me livro do material físico de lembrar, se aquilo dói, sem o menor pudor. Levei seis meses pra jogar tudo fora, mas enfim, consegui. Não doeu, não machucou, mas incomodou bastante. Eu não queria mexer naquilo, mas percebi que precisava ser feito. Como arrancar band-aid. Como furar piercing. Um segundo e foi.

Ultimamente número 2: meus botõezinhos estão pensando bastante, nesses últimos dias. Eles estão me olhando com reprovação, dizendo que eu devo gostar de ter que começar tudo do zero, sempre. "Tá foda gata!", eles dizem. Me olham com aquela cara de "Eu avisei". Eles avisaram, a racionalidade mandou um bêjo. Mas não é assim que a gente funciona. Meus botões são meio ripongas, vivem falando de tranquilidade na vida. É por isso também que vou dando ouvidos à eles, tranquilidade pra lidar com as coisas que vão aparecendo. Vamos ver se consigo.

Diálogo no despojar dos restos mortais do relacionamento de sete anos:

Mãe: - Mas eita menina, vai jogar até esse urso fora? já não basta os outros 15 que você doou?
Eu: - É, vou. Sempre odiei urso de pelúcia, e mesmo assim, ganhei por anos a fio. A vida não é mesmo como a gente quer. E outra, ele tá todo ferrado, costura aberta. Precisa ir, não vou doar esse urso velho pra alguém.
Mãe: - Pensando bem, melhor mesmo. É o que tem pra hoje, né.
Eu: - Todas comemora, mãe. E pensa: menos ácaros no meu quarto.
Mãe: - Verdade!

Mães entendem (quase) sempre.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Desconstruindo o dresscode

Moda pra mim já foi um assunto pain in the ass. Chatóide mesmo, sem menor dúvida. Bons tempos em que eu tinha umas 3 peças de roupa no armário, só usava preto e camiseta de banda, além de umas saias pretas que iam até o pé. Ganhei meu primeiro coturno aos 11 anos, e usei ele até o solado abrir, o que é uma proeza, em se tratando de uma bota de couro preparada pra sofrer.

Quando entrei no mercado de trabalho - leia-se: assessoria de imprensa - passei a me vestir melhor. E nem era em função do trabalho engomadinho não, é que eu passei a ter um certo budget pra comprar roupas. Antes não tinha como comprar nada, normal, é a vida, família sem muita grana. E depois desenvolvi um gosto por itens do vestuário masculino, e que também identificam o perfil jornalista de ser, que são as camisas e as roupas de corte de alfaiataria. Quem diria, Lyra Libero, de metaleira de saia comprida a camisa azul marinho bem cortada. Eu melhorei, acredito. Ou tento. 

Hoje resolvi arrumar o guarda-roupa, jogar umas tralhas fora, já pensando na roupa pra ir no coquetel de uma marca aí, que tá lançando um evento de arquitetura e design na cidade, em um pico meio formal. Traje: casual. Que raios isso quer dizer?

O problema hoje foi a escolha do sapato. O dilema da mulher moderna inexiste, pois a maioria opta pelos saltos, e eu até tem alguns que uso volta e meia. Mas com o pé semi-torcido, como proceder? Thiago não ajudou em nada, dizendo "coloca qualquer um aí, vai". Então eu fui. De bota. 

Querida bota motorcycle ligeiramente surrada: eu te amo. Obrigada por me fazer destoar de todas as outras mulheres na festa. Senão a vida não tem graça.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Metade da alma com patinhas

Eu ia fazer um post gigantesco sobre leitura, preço de livros x interesse dos jovens, tema que acho gostoso discutir, e em função do Dia Mundial do Livro. Peguei a câmera e resolvi fazer uma foto bonitinha.

Então a Panzinha apareceu e roubou a cena.


Pensei: "Hmm quer saber? deixa pra lá". E amassei a gorducha por um longo tempo. Me fez esquecer os problemas, e a chatice, os obstáculos, tooodo o leque de coisas estúpidas pelas quais passamos no cotidiano, no trabalho, na vida, mesmo que só por aquele momento. Só de ouvir o ronronar da pequena.


E depois ela ficou por ali, bonitinha, deitadinha. Fazendo companhia em silêncio. Gatos lêem pensamentos, só pode.

"Mãe de gato babona" se aplica aqui. "Alma gêmea felina" também.
A vida tem jeito, gente. Mas só tem jeito se tiver jeito de gato. :)

sábado, 21 de abril de 2012

Sobre bloqueio e modo catástrofe

Certo tempo atrás eu achei que se eu tivesse as palavras, nada mais importava. Que se eu pudesse simplesmente continuar escrevendo, fluindo entre as letras, não importava o resto. Estou vendo que não é assim.

Ontem achei o primeiro fio de cabelo branco da história desse país cabelo. Um longo e forte fio prateado, saindo bem do centro do meu longo cabelo castanho. Duas hipóteses: eu posso estar ficando velha e louca, ou, é o resultado dos últimos seis meses de caos. 

Teve o caos bom, a catarse em diversos momentos, as novas conquistas, o novo gosto na boca. Outros, eu preferia me esquecer completamente. Estilo Lacuna Inc., mesmo.

Um amigo me disse outro dia que perguntou à sua terapeuta, como ele poderia se esquecer pra sempre de uma determinada pessoa. Ela disse que, quanto mais mágoa e rancor você sente, inevitavelmente se lembra da pessoa, 2x mais do que simplesmente deixasse ir, associando sentimentos de "oh, que bom que fulano tá feliz". Porque quanto mais você pensar com tranquilidade, mais tranquilidade vai existir.

Eu pensei que tudo bem se houvesse decepção, desespero, solidão. Eu ainda poderia escrever, não é mesmo? mas ontem parei pra pensar, olhando fixamente pra poucas linhas porcamente escritas em um intervalo de trabalho, e senti um peso enorme no fundo do estômago. O bloqueio. Ele chegou. Finalmente. 

Há exatos seis meses não toco violão, não escrevo uma letra inteira de música. Não escrevo um mísero conto, não mais do que uma página ou meia. É por isso também que voltei com o blog, pra ver se me obrigava a escrever pelo menos um pouco. Eu não posso me dar ao luxo de me sentir inapta, pensei, esse é meu ganha pão. Mas escrever release, matéria, é outro campo. Pra isso a gente tira uma carta da manga, pede ajuda ao colega, dá voltas, aumenta o boiler. O problema é a parte de sentir paz, fluência na ponta dos dedos, sentir que tá chegando a algum lugar. Faz tempo que sinto que estou andando em círculos.

Não vou culpar as circunstâncias, acontecimentos, nem a inspiração. O problema todo é que eu não sei o que fazer com esse momento em que vivo, onde ainda não iniciei a transição derradeira pra outra perspectiva, em que sou obrigada a esperar, enumerar, organizar. Impaciência, impaciência. Doses de melancolia, pinceladas no meio do dia pelo sentimento de catástrofe. Condição delirante de que eu estou sozinha nesse mundo. Meu mundo. Lamentações que me fazem sentir meio patética.

Essa cobrança de ser forte, sempre: ultimamente eu tenho ignorado tudo isso de leve. Ignorado a bagunça, a mala que não foi desfeita, a súplica por ser menos eremita, por sair de dentro do quarto um pouco. Os pedidos pra sair de casa e beber por aí. Atender as pessoas não tem sido meu forte nos últimos tempos. Nem escrever.

Eu sou impaciente demais, às vezes. Eu queria ter um calendário, prevendo tudo que vai acontecer e o que posso fazer. Não ter data pra sentir paz de novo me oprime, me deixa chateada e deprimida, achando que tudo vai dar errado. Não sei o que fazer com esse sentimento de querer acelerar o tempo, de recortar lances de vida e jogar fora, adiantando o espetáculo. Botão fast forward. E nem sei se isso é o certo também, enquanto cenários nada promissores pipocam na minha cabeça; podia existir o botão "sair pra comprar cigarros e nunca mais voltar" também. 


I just don`t know what to do with myself, tã-nã-nã.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

desembaraçando.jor

Da primeira ligação que fiz pra primeira fonte, para a primeira pauta nos tempos de Unifolha, embaraçada e insegura, até o dia de hoje, em que andei por toda a extensão do Albano Franco levando a imprensa de cá pra lá, tem chão. Dos tempos do primeiro estágio em jornalismo, abril de 2007, voluntária sem um puto no bolso, era ingênua e ficava nervosa quando tinha que ligar e conversar com alguém. Do cabelo colorido e all star sujo que não tomava café, até a levemente-viciada-em-cafeína que respira assessoria e sabe o que quer dizer coisas como "media training", "follow up" e "budget", um montão de água correu debaixo da ponte.

E eu ainda tremo na base.

Os sonhos nem são mais os mesmos, e na verdade, naquela época era tudo muito simples. Saudosismo bocó, mas é uma daquelas bobas verdades. Dormir até tarde, acordar, vestir a camiseta listrada e o único tênis bom, ir até a faculdade calmamente, comprar cookies na vending machine no corredor do bloco V, subir a escadinha da TV Pantanal, chegar na redação. As pautas eram leves, tranquilas, inspiradas. O chefe era um dos jornalistas mais foda do mundo, com sua "mochilinha" engraçada e o gosto afinado por MPB. Quatro ou cinco horas depois, missão cumprida, aulas. Cabeça livre pra se dedicar a coisinhas infinitas.

Nessa época eu achava que ia escrever para a revista Piauí. Vai vendo.

Mas aí em 2009 virei gente grande, pulei de galho. Por um acaso, fui parar na assessoria de um grande órgão público estadual. Assessoria, logo eu que tinha dois piercings na cara, e que não costumava pentear o cabelo (ops). Por algum motivo gostaram de mim, exceto o jornalista mais inútil que conheci nessa época em que eu não conhecia ninguém, mas que eu ignorava sumariamente em contrapartida. Foi lá que aprendi que às vezes ninguém entende o papel do jornalismo. Nem mesmo os próprios jornalistas. Jurista, então? vish. Menos ainda.

Só que ficaram bons momentos, vários, na verdade. Como quando eu entrei em uma Unidade de Internação de Menores (UNEI), que havia sido alvo de rebelião horas antes. Fotografei os menores, magros e embrutecidos, e os cachos de barata que se estendiam pelas portas. Imprensa nenhuma foi autorizada, mas eu estava lá, e nem formada era, e só porque o tal jornalista inútil tinha preguiça de sair da sala e mandava a estagiária. Ele pode pensar que naquele dia eu me ferrei; eu me considero sortuda. E as fotos que eu tirei após uma operação que acompanhei, com a polícia e outras instituições?. "Trabalho escravo" em uma embaladora de carvão, madeira ilegal queimada. Olhares tristes, cansados, rosto coberto de fuligem e o negrume do carvão pra todo lado. Obrigada, jornalista preguiçoso, por mandar a estagiária em todas essas pautas.

Continuei na assessoria, após esse estágio, já como profissional, mas em um local completamente diferente. Ás vezes noto que minha cara de menina engana, e que o traquejo pra gerenciar crises me falta, e muito. Trabalhar com clientes comerciais me despertou a parte visual do trabalho, de editoração gráfica. Todos os dias vejo bons profissionais em ação, e me sinto feliz por poder aprender. Em outros, quero surtar e arrancar todos os cabelos. Quero tirar a sapatilha de cetim do pé e jogar longe, quero chorar de raiva de episódios que nenhum jornalista de impresso deve passar, aposto minha coleção de filmes do Tarantino.

"É fácil ser assessor de imprensa". Que frase mais equivocada. A gente anda na corda, o tempo todo. Lida com dois lados da moeda. É privilegiado de uma forma e desprotegido de tantas outras.

Da menina que tinha medo de ligar e perguntar "você me daria uma entrevista", sobrou muito. A vontade de ser sempre melhor, que existia naquela época, por exemplo, é a mesma. Exatamente a mesma. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mantra

"Eu preciso voltar a escrever... eu preciso voltar a escrever... eu preciso voltar a escrever...". 

Não me entenda mal, que eu bem que escrevo um montão a semana inteira. Um montão de releases que serão mexidos, revisados, editados; que falam de cliente, de serviço, de entrevista, de produto, de ação, evento, acontecimento, notícia, reportagem, matéria, nota, newsletter, jornal. Meu ganha pão é esse, fim.

O que preciso é voltar a escrever as histórias que povoam minha cabecinha, como eu sempre fiz desde que me entendo por gente. Então a meta é ficar entoando esse mantra e colocar em prática essa inspiração avassaladora que eu trouxe, amarrar todas as linhas, costurar todos os pedaços e dar prosseguimento até encostar a mão no arco-íris.

Leeeeeeeet's go!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Off

Correria, turbilhão. Aceitando os freelances que aparecem, dormindo pouco, concentrando no trabalho, eventos, pequenas coisas, louça pra lavar, barulho, dor de cabeça, músculos doloridos, preocupações, tristezas, resoluções imediatas, dinheiro, notícias ruins. Acho que não durmo direito desde meu aniversário.

O que importa é que um dia a gente dorme, e dorme bem, durante uns quatro dias pelo menos. Descansa a alma, reflete, se afoga, transborda, espairece. Ver a brasa flutuante do cigarro na sacada, andar nas linhas do futuro, submeter o corpo a uma meditação tântrica de reflexão e emoção, de contagem regressiva. 

Deu um leve estranhamento voltar pra essa cidade, e eu nem vivi nada demais em São Paulo, além do show incrível e das aventuras engraçadas. Vou de novo, com outros objetivos, esse final de semana, tenho concurso no domingo. Concentrar, respirar fundo. Chegar sábado e submergir, me estender sob uma água límpida, pura, maravilhosa, e ficar ali, de molho, um pouco, me despojando de todo o cansaço acumulado desde o dia 31 de março.

Quarta-feira eu volto.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Aberdeen



I've been trying real hard...
To realize
But somethings take a long long
Long long time (a long time)

Hold the phone
Hit repeat
You got me foamin at the knees
Saw the flame tasted sin
You burned me once again
Cut the cord, she's a creep
ABERDEEN
Way back 

Never saw my dark side
In, in your eyes
Back and forth bloody fingers
Paintin' up the sky
The sky.



segunda-feira, 9 de abril de 2012

Little Conquerors @ Lollapalooza 2012

Voltei do Lollapalooza, e voltei viva, e mais, me sentindo uma conquistadora dos sete mares, a desbravadora em pessoa. E em vários momentos, me senti uma caipira, de fato.

Primeira vez no avião: desconfortável. Primeiro dei risada porque me contaram histórias cabulosas sobre a pressão nos ouvidos que pensei que ia escorrer sangue pelas orelhas. Tontura em função do estômago vazio (na correria não se come!), uma little Lyra chegando em Guarulhos, na selva de pedra mainstream que é São Paulo.

Sobre São Paulo: fiquei pouco demais, não fui em bar nenhum praticamente e engoli goela abaixo só esfiha do habbib's que era o que dava tempo e tinha perto. Conheci pessoas muito legais, outras nem tanto, algumas loucas e outras normais. Andei na Av. Brigadeiro Faria Lima segurando macarrão e budweiser nos braços, porque os três tobós de mola (Cirilo, Mari e eu) esqueceram que em SP não se tem mais sacolas nos mercados, quando resolvemos economizar na grana e na sola do sapato (e no dinheiro do táxi e no tempo extremamente curto) fazendo almoço em casa. Almocei espaguete com carne na sexta-feira santa e tomei devassa (e vodka depois).


Uma cidade com cheiro de comida velha e muitos prédios: essa sou eu me sentindo caipira e com saudade da terrinha. Um lugar incrível que tem milhares de pessoas e coisas pra fazer e que me anima de pensar: eu desbravadora. Meio esquizofrênica, segui pro festival. 

Minha câmera não colaborou nada, as fotos ficaram bem ruins. Show do Cage the Elephant: LINDO, FODA, SENSACIONAL. A cada mosh do vocalista, Cirilo soltava "QUE CARA LOOOUCO!", e Macarena só que olhava meio abismado para a performance. Mari pirou no show. Dancei na grama como se estivesse na pista, no dancefloor. Cantei "Aberdeen" a plenos pulmões, e meus amigos à minha volta. Senti um momento genuíno de felicidade que durou músicas inteiras e é isso que mais me importa. E tudo que deu errado no final deu certo e foi tudo lindo, tudo mesmo. Me realizei em muitas ocasiões, tive certeza do que quero e que amo muito, demais, meus amigos. Parece bobagem, e é, e ao mesmo tempo não é. É vontade. 


Depois, correria para o Foo Fighters, e tudo passou muito rápido, os outros shows pareceram bons mas menos relevantes, com gosto de prelúdio saboroso, mas apenas prelúdio. E o show, lindo, emocionante. Lágrimas durante Walk, verso "Do you remember the days / We built these paper mountains / And sat and watched them burn / I think I found my place / Can't you feel it growing stronger / Little conqueror" cantado com toda a energia que tirei não sei de onde, a plenos pulmões. Catarse, vontade de explodir em mil pedacinhos, me sentindo plena e agradecendo mentalmente ao universo por tudo que me aconteceu nos últimos seis meses. Fiquei sem palavras. As outras foram lindas demais também.

Joan Jett subiu ao palco, e eu nem fiquei mais chateada por ter perdido o show dela pra cuidar lugar pro FF. Foi lindo de se ver também.

Em Everlong, que fechou o show, lembrei de 2009, ouvindo essa música em direção à Dourados, no ônibus, pensando no que seria de mim e se seria capaz de superar todas as merdas que haviam me acontecido. Precisei de três anos pra pensar naquele momento novamente, e ter certeza de que ficou, mesmo, pra trás.

Gosto de felicidade misturado ao cansaço na volta. Mais certeza de que as coisas vão dar certo, mais feliz por ter realizado mais uma coisa bacana. E querendo trabalhar pra que tudo que planejei dê certo, incansável. Because I believe I've waited long enough. 


Obrigado, Dave. A gente se vê na próxima.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Try to hit that little space

"Seu nome é Lyra mesmo?"

Foi assim que começou. Me pego refletindo às vezes, como hoje, sobre como a vida é meio louca. Não posso sair explicando a situação - não ainda -, mas posso dizer que aprendi de fato que a vida é bastante inacreditável.

E ela não tem obrigação de ser assim.

Viver, respirar, resistir. Eu quero sempre ser a resistência, nunca a falácia, a mesmice. Nunca o ranço do asfalto, só a cama quente e cheia de preciosidades. Sem "keep calm and carry on". Quero mais é "Live this live with style to make you strong".

Vamos viver cada momento, mesmo que ele dure apenas quatro dias intensos. Ou que eles não durem nada, nada mesmo, ou que eles sejam tão loucos que no retorno à rotina eu não acredite que eles aconteceram, embora toda a lembrança do sublime esteja bem gravada na minha memória, na minha retina.

"Ás vezes você acha que eu sou louco né?"

Eu não acho, eu tenho certeza. Acho que eu devo ser também, porque eu quero tudo isso mais do que eu quis qualquer coisa nesses últimos cinco meses. Viver, não sobreviver. Amar mais, não existir apenas. Solta na ventania, mas de mãos entrelaçadas.



(A propósito, o Black Drawing Chalks vai tocar no Lollapalooza também, mas eu não vou conseguir assistir o dia 8. Mas já vi eles de pertinho aqui em Campo Grande e eles são muito bons.)



quarta-feira, 4 de abril de 2012

Efêmero

Quem me conhece sabe que os últimos cinco meses não foram nada fáceis pra mim. Posso enumerar uma lista bem extensa de itens que deram errado, de sonhos e ilusões que ruíram. De perdas, grandes e pequenas. É claro que um montão de coisas boas aconteceram, mas eu aprendi o valor do efêmero, como nunca.

Palavra engraçada. Viver é engraçado. 

Meu namoro de sete anos acabou, de um jeito tão, mas tão esdrúxulo, que às vezes dá até vontade de rir. Todas as sensações de fracasso vieram, todos os estágios de luto e dor. Passou, está passando, vai passar. Tudo vai. Pessoas se tornaram extremamente importantes pra mim, de uma forma que eu nem sei processar demais senão perde a graça. Aprendi que é preciso abrir nossas tão faladas asas e voar, por vontade, por tesão pelas coisas, por querer tudo diferente. 

Ontem a Lily morreu, uma das nossas gatinhas. Foi como pisar num degrau em falso e sentir que o coração parou por um milésimo de segundo. Assim. Toda a família aos prantos, e eu tentando segurar a onda porque o trabalho me consome; passo bem mais de oito horas ligado nele, e ele é minha atual fonte de concentração. 

Agora estou aqui ouvindo Karen Elson e arrumando malas, com ajuda da Pan, essa rajadinha aí que é minha cara-metade de bigodes, como diria a Bia Levischi

Bagunça master antes de viajar.

Eu só consigo, nesse momento, pensar na vida que eu levava, e que, mesmo que ela tenha se estendido por sete longos anos, que uma hora as coisas se acabam e outras muito novas e especiais começam. Que eu tenho coisas brilhantes pela frente. Mas que o caminho é extenso. Piegas? indeed.

Até a volta. 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Onde estão as garotas selvagens?

Em vias de assistir o meu segundo grande concerto/festival de rock, ou melhor, na véspera de assistir Joan Jett & the blackhearts no Lollapalooza, me deparei com algumas bandas brasileiras, atuais de rock, com meninas tocando, naquele esquema youtubístico "clica em um e vai parar em outro". E devo dizer, me deu dor no coração. 

A Joan fez parte do Runaways, aquela banda das meninas que tocaram no Japão de lingerie, que tem aquela música "ch-ch-ch-cherry bomb". Uma bomba cereja. Vide um verso: "Can't stay at home, can't stay at school/ Old folks say, ya poor little fool/ Down the street I'm the girl next door/ I'm the fox you've been waiting for". 

Desde a Runaways, o recado era esse. Ninguém vai parar essas meninas. Elas empunham guitarras, ela jogam fogo no palco, elas podem fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Esse é o rock, esse é o momento. 

Dona Joan Jett falou de amor, não se engane. De sexo, de entrega, de romance. Embalada ao som de distorção pesada, sem lavar a música com desinfetante. É incômodo, é potente, é tenso. Não tem mastigação, tem vontade. 

J. Jett, onde estão as você da nossa década? e não tô falando do underground. No underground tem muitas Joans, e até no underground brasileiro, a gente sabe que existe. Eu vi, mesmo na cena musical mais mínima, na cidade onde o sertanejo predomina. Mas e nas rádios? e bombando de acessos de pré-adolescentes? 

A gente sabe (e lamenta) que exista o Big Brother, o sertanejo universitário e o hot pocket. Que a indústria massifica, distorce, segrega, pasteuriza. Mas algum dia a gente não engoliu isso, e consumia o diferente. E com aval dessa mesma indústria! por incrível que pareça, já tocou rock na rádio. 

Então, eu penso nessas meninas, que como eu, um dia quiseram fazer música. E elas estão aí, não se engane. Elas estão por toda parte. Mas agora cantam sobre dilemas vazios, sem muita força. O dilema atual delas é se o garoto que elas gostam vai olhar pra elas, se o cabelo tá arrumado, se o tal garoto vai notar a roupa que ela tá vestindo. Antes existia raiva, questionamento, tesão, tudo junto. Agora é tudo meio pasteurizado. Enlatado. A menina TEM que ser bonita e cantar meio afetadamente, as rimas são pobres, é tudo superproduzido e soa muito falso. As músicas malemal rimam, a composição não faz muita diferença. Que aconteceu com as meninas? 


segunda-feira, 2 de abril de 2012

"Suas escolhas são erradas, mas nem estou te julgando amigo!"

Hoje me mostraram esse cartaz no Facebook de uma pessoa, a tal "resposta" à campanha que vegetarianos fazem, contra o consumo de carne. Já vi esse negócio circulando na rede um milhão de vezes, e é o tipo de coisa que nem dá pra dar muita bola porque não faz o menor sentido. E não, eu não sou vegetariana. É só somar 2 + 2 e ver que realmente não faz sentido, comparar uma verdura com um animal abatido pra consumo. 

A princípio ignorei, afinal, se você pensar bem a respeito, vai chegar à conclusão que a galera podia pensar em construir (ou não) argumentos melhores ao invés do escárnio - que convenhamos, nem é argumento. Ou melhor, eu sempre achei esse negócio muito, muito babaca. É sério, não faz sentido. E não é porque escarnece da dieta que hoje é opcional, mas que eu acho que em algum momento, vai ser o único jeito - vide colesterol, consumo de água e degradação de áreas para criação de gado etc etc - é porque é um senso burro. Só isso. É zoar dizendo "tadinha das alfaces né, elas sentem". Então eu sempre ignorei esse troço, sempre pensei que esse tipo de "argumentação" é burra (e já ouvi argumentação sem sentido do lado de "lá" também, for the record, dá outro post). Mas o que me levou a pensar mais sobre isso foi o comentário da, hã, moçoila que postou esse negócio. Acompanhem comigo:

"Quem sofre mais, isso eu não discuto. É apenas uma resposta a um outro cartaz feito pelos vegans e achei engraçado, simples assim. Mas brincadeiras à parte, não julgo hábitos alimentares alheios e não admito que julguem os meus, cada um que se alimente do que bem entender".

Perai, como assim quem sofre mais...? isso não é um tanto óbvio? a diferença entre um boi e um pé de alface? tudo bem, até aqui você tá indo pela lógica estapafúrdia da criatura que teve a ideia de falar isso primeiro. Seguindo, ela achou engraçado, então tudo bem, né? achou engraçado um cartaz escarnecendo o estilo de vida ou de hábitos alimentares de outras pessoas, mas nããooo, isso não é julgamento, longe disso! E "brincadeiras à parte", ela não julga hábitos alimentares alheios. E coroando: ninguém pode julgar os dela! brincadeiras com o dela não pode! é proibido gente. Mas zoar o dos outros pode, e ainda dizer que não tá julgando nada também. "É engraçado". 

Mais uma pérola do Facebook de hoje, que me levou pela mesma lógica: uma pessoa da minha timeline que eu considerava "ok" (parâmetro de pessoa coxinha, mas tranquilinha, "ok"), deu 'curtir' numa postagem de alguma igreja 'loucuras de meu deus' (Hermes&Renato Old Days), onde uma mãe relatava como foi lindo, abençoado, maravilhoso e maravilindo, levar a diante uma gestação com um bebê anencéfalo, que morreu horas depois de nascer. Tudo bem, é sério, a escolha é dela, e encarar isso dessa forma sei lá, positiva ("Deus vai curar o bebê dentro do ser ventre" - é o que essa mãe relatava), também. Mas o que me chamou a atenção foi o texto acompanhando as imagens, que vocês devem imaginar o teor. E que dizia não ao aborto, com todos os argumentos de senso comum. E burro. 

Quer dizer, tudo bem você pensar assim ou assado, poder fazer suas escolhas. Você pode escolher agir como todo mundo, comer aquele churrascão, ser pró-vida, ser heterossexual, gostar de ouvir funk dentro do ônibus sem fone de ouvido. Mas o resto das pessoas nem pode pensar diferente ou querer escolher diferente. Não pode. É errado, é digno de pena e de escárnio. Deus não permite. A dieta não permite. A igreja não permite. E além disso tudo, te dá o direito de sabotar/boicotar/zoar/julgar/escarnecer, e outros verbos impiedosos.

Até quando, fiquei pensando, esse senso estúpido vai parecer o "certo"? e mesmo agindo de forma oposta, as pessoas vão continuar achando que o diferente é errado, e ainda, se isentando da culpa por julgarem, por um motivo ou outro? e vão achar que estender suas próprias escolhas ao outro é que é válido?

Próximo capítulo dessa saga chamada "Facebook: a terra do senso idiota": Músicas sertanejas homofóbicas sendo defendidas com alegações de "liberdade de expressão" e "viado tem tudo que morrer". 

Ciao.