A Joan fez parte do Runaways, aquela banda das meninas que tocaram no Japão de lingerie, que tem aquela música "ch-ch-ch-cherry bomb". Uma bomba cereja. Vide um verso: "Can't stay at home, can't stay at school/ Old folks say, ya poor little fool/ Down the street I'm the girl next door/ I'm the fox you've been waiting for".
Desde a Runaways, o recado era esse. Ninguém vai parar essas meninas. Elas empunham guitarras, ela jogam fogo no palco, elas podem fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Esse é o rock, esse é o momento.
Dona Joan Jett falou de amor, não se engane. De sexo, de entrega, de romance. Embalada ao som de distorção pesada, sem lavar a música com desinfetante. É incômodo, é potente, é tenso. Não tem mastigação, tem vontade.
J. Jett, onde estão as você da nossa década? e não tô falando do underground. No underground tem muitas Joans, e até no underground brasileiro, a gente sabe que existe. Eu vi, mesmo na cena musical mais mínima, na cidade onde o sertanejo predomina. Mas e nas rádios? e bombando de acessos de pré-adolescentes?
A gente sabe (e lamenta) que exista o Big Brother, o sertanejo universitário e o hot pocket. Que a indústria massifica, distorce, segrega, pasteuriza. Mas algum dia a gente não engoliu isso, e consumia o diferente. E com aval dessa mesma indústria! por incrível que pareça, já tocou rock na rádio.
Então, eu penso nessas meninas, que como eu, um dia quiseram fazer música. E elas estão aí, não se engane. Elas estão por toda parte. Mas agora cantam sobre dilemas vazios, sem muita força. O dilema atual delas é se o garoto que elas gostam vai olhar pra elas, se o cabelo tá arrumado, se o tal garoto vai notar a roupa que ela tá vestindo. Antes existia raiva, questionamento, tesão, tudo junto. Agora é tudo meio pasteurizado. Enlatado. A menina TEM que ser bonita e cantar meio afetadamente, as rimas são pobres, é tudo superproduzido e soa muito falso. As músicas malemal rimam, a composição não faz muita diferença. Que aconteceu com as meninas?